As caçadas

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Vamos fachiar! “É assim como se chama a caçada noturna, onde com um grande facho encadeamos as rolinhas na dormida matando-as com uma vara ou com o estilingue".

Preparamos os dois candeeiros de pavio grosso que nos serviriam de fachos e em fila indiana entramos no mato, nessa noite estavam dois dos filhos do dono do sítio visinho bem mais velhos do que nós, rapagões já, o "nós", éramos eu e dois irmão com a mesma idade dos visinhos.

As regras para a divisão do resultado final não obedecia ao lógico naqueles casos.

Que era eqüitativa pelo menos aos dois grupos.

Já que a minha produção era quase nula devido ao meu tamanho, seria cada um por si, quem pegasse botava no bornal.

Não deu certo, quem abatia nunca chegava primeiro onde a rolinha caia, e criou-se o impasse, mesmo porque as minhas mãos estavam mais perto do chão do que as deles.

O mais velho dos dois visinhos parou dizendo, vamos organizar isso e dividir conforme é o costume.

Claro meus irmão não gostaram, porque mudar as regras do jogo? Se foram eles mesmo quem as impuseram? Não tinha sentido, especialmente estando nós a ganha-lo.

Tudo bem, vai dividir a partir de agora.

Acordo feito e caçada reiniciada, ficando um deles responsável em por num bornal separado toda a "colheita" daí para frente, mas as rolinhas apesar de mortas começaram a dá pulos de um bornal para o outro, vi meus irmãos cochicharem, mas não dei importância.

Uma meia hora depois a bunda de um deles pegou fogo e logo a seguir uma correria danada para todos os lados, e gritos, apaga, pega, apaga, pega este fila da puta, eu sem saber de nada corri também.

Cheguei em casa sozinho lá pelas duas horas da madrugada.

Cadê os outros?

Estão no mato.

Com os olhos abertos fiquei na rede esperando com o coração acelerado que os manos chegassem inteiros.

Clareava o dia quando ouvi risos abafados e um leve bater na porta, pulei fora da rede e mais do que depressa e a abri, parece que era ela quem os abafava.

Pela primeira vez vi alguém chorar de tanto rir.

Conta-me, me conta era eu pedindo doido para chorar também.

Entre risos soluçantes me contaram.

Foi o seguinte, aquele fresco estava roubando as rolinhas, eu vi! Então peguei o pavio do candeeiro passei na bunda dele e tasquei fogo.

Simples, muito simples, mas o fundo da calça dele tinha tanto remendo que mais parecia uma almofada dessas que se põem sobre as selas para deixá-las acolchoadas, além de não ter sido só uma passada, foram várias, um tropeção aqui outro acolá, e tome querosene.

Menino tem juízo?

Foi a pergunta dos adultos.

Mas foi sem querer, um acidente, assim foi restabelecida a paz apesar dele ter passado oito dias sem poder dormir na rede.