ACORDAR EM LOCAL ESTRANHO

Eu me perguntei duas ou mais coisas. Não me lembro o que eu perguntei, mas a resposta da segunda foi "já". A primeira, eu devo estar enganado, o que vem na mente é "cão". Não devo ter me perguntado algo relacionado a cães, tão pouco esta é a resposta para a pergunta que eu fiz. A lembrança ainda permanece nublada e inquietante, mas pretendo não me prender a isso toda manhã em que eu acordo com essa sensação estranha de perguntas e respostas mais absurdas possíveis. Embora esteja dormindo pouco nos dias de semana, aos finais de semana, com muita alegria sinto o sol se derramando sobre mim.

Primeiro toca o meu queixo e logo me dá um rapido beijo morno. Depois sobe e desperta o meu nariz me trazendo lentamente à vida após uma noite de cor negra e fria. Ao passo que toca os meus cílios, estou inteiramente acordado, apenas aguardando o momento em que o sol se despeja por completo sobre minha face me trazendo uma deliciosa bandeija de aromas para o café da manhã. Eu sorrio. Ele também, mas disfarça ente o vidro canelado da janela do quarto e da sala.

Meu corpo ainda está fraco, treme só com a idéia de deixar a posição que me encontro. Meu sangue - com este calor da manhã - esquenta e quando começa a borbulhar, acende dentro de mim o bule que prepara minha xícara de ânimo. Tenho ânimo. Não o suficiente, talvesz nem o necessário, mas algo me faz querer ir de encontro ao céu. Numa velocidade surpreendente (a esta hora) sinto que vou sair do meu corpo e dar com a testa no teto e nem no quarto caberi, sairia disparado até o infinito, na última camada de ar de atmosfera e depois lá esquecer que eu tinha um corpo que deixei na Terra. Eu ergo os braços moles e pesados para evitar que isso aconteça. Estou aumentando quase um metro nos meus ossos e músculos. Ao fim dessa espreguiçada, os braços e consequentemente os dedos despencam ao lado do meu corpo e eu não quero mais subir, quero descer. Quero afundar no meu colchão, quero boiar, flutuar e ficar nesta posição até que alguém me retire por eu não conseguir mais viver entre as cobertas. Esse alguém já chegou e não pertence à classe das pessoas que falam enquanto andam ou me tocam. É uma voz grossa e profissional que fala a alguns metros e me tira da cama.

O barulho que antes era uma voz, me atormenta de forma que enquanto ele não se acabar, jamais conseguirei pensar de novo (não sei como pensei nisso).

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Vejo um radio-relógio quebrado no chão. É o terceiro da semana. Não tenho sorte com tecnologia.

Eu sou agora o planeta Terra. Do sul, sinto congelado o meu polo. Meus dedos do pé enrijecem. Qualquer tentativa de movê-los será em vão. Resultará em um acidente trágico, mutilando-os ou algum outro incômodo menor. A solução mais certa seria envolvê-los em uma espécie de pano, um tecido que pudesse aquecê-los e protegê-los deste mundo hostil que estou prestes a enfrentar.

Resolvi deitar-me mais um pouco. Curar os pés e a cabeça cheia de pensamentos estarrecidos e cheios de dor. Espero que amanhã não seja este local estranho que vez ou outra chamam de meu corpo e que seja sábado, para eu poder viver tudo de novo. Amanhã