Reminiscências 02

Dona Mulata

Era, e ainda é comum, atribuir nomes a animais a fim de melhor identifica-los e reconhece-los de acordo com suas características.

Com o rebanho de gado de meu pai, não era diferente. Tínhamos o boi Bolero, e entre as vacas se destacavam: Malhada, Pretinha, Morena, “Vermêia” e Mulata. Nomes dados em função das tendências de cor de cada uma.

Tinha-se a preocupação de não se utilizar nomes próprios a fim de que não houvesse ofensas com as pessoas de nossa convivência.

No entanto, esta preocupação existia com a nossa vaca mulata.

Por mulata, ou Dona Mulata, também era conhecida a esposa de um amigo de nossa família, o alegre e descontraído negro, que por incrível que pareça tinha o apelido de “Cor de Rosa”.

Cor de Rosa era uma figura divertidíssima que nos alegrava sempre com suas anedotas, causos e mentiras. Ria e fazia rir muito quem estivesse por perto.

Dona Mulata, não deixava por menos. Sempre de bom humor, trabalhadeira e dona de um enorme coração, alegrava-nos muito com suas visitas, a não ser por um inconveniente. Em sua presença jamais deveríamos mencionar o nome de nossa vaca, sob pena de se criar um tremendo mal estar.

Porém, toda recomendação e cuidado não foram suficientes, durante uma dessas visitas.

Numa tarde, enquanto meus pais e a recém chegada família do Sr. Cor de Rosa, conversavam no curral, meu irmão Sebastião quase que causa um verdadeiro “Incidente Diplomático” com nossos visitantes.

Tendo acabado de tirar o leite, soltou os animais e os conduzia ao pasto no mesmo tempo em que ia gritando: “Vamos Preta, Afasta Morena, Depressa Malhada, Sai Mula..... foi quando foi interrompido por meu pai que tratou de intervir dizendo:

- “Deixa a Mula que eu vou precisar dela filho”.

Meu irmão não entendeu muito bem, mesmo porque a Mula não estava entre os animais, no entanto não houve tempo de insistir no erro pois meu pais já encaminhava as visitas para dentro e tudo se arranjou.

Evidente que novas precauções foram tomadas, por ocasião daquelas agradáveis visitas.