Reminiscências 05

Os Pés de Araçá

Araçá, para quem não conhece, é uma pequena fruta da família da goiaba, de gosto meio azedo quando ainda verdes, mas que se tornam doces quando bem maduras, quando adquirem a cor amarela. Uma delícia!

Na nossa fazenda, tínhamos de quase todo tipo de fruta sempre ao nosso alcance, de acordo com as estações de cada uma, claro. Algumas eram exceções, como é o caso do araçá.

Toda vez que saíamos de casa rumo a cidade o percurso inicial era mais ou menos assim: Descíamos uma ladeira, formada por trilhos batidos por tropas de burros, juntas de bois e outros animais, até a “garagem”, onde ficava a nossa Charrete (meio de transporte daquela época).

Dali seguíamos neste transporte uns 200 metros até a porteira de saída principal, a chamada “Linha”, nome adquirido em função da extinta linha de trem que cortava aquela região.

Pois bem, voltemos ao tema. Toda vez que passávamos pela “garagem” era possível avistar os enormes pés de araçá no outro lado da lagoa, coberta por taboas, espécie de vegetação que predominava os lugares constantemente alagados.

E isso era uma enorme atração para nós, principalmente na época em que estavam carregados de frutos. Um amarelo ouro mais atrativo do mundo!

Acontece que para alcançá-los, tínhamos que contornar toda a várzea, passando por terrenos perigosos, cheio de mato, água, espinhos de toda espécie, além do perigo de cobras e outros animais rastejantes.

Uma verdadeira maratona para se chegar aos tão cobiçados pés de araçá.

Mas nós, os mais novos (Eu e principalmente minha irmã Dora) nunca nos dávamos por vencidos. Conseguíamos transpor estes obstáculos sempre que a vontade de saboreá-los, falava mais alto.

Mesmo sob as broncas de minha mãe e minhas irmãs mais velhas, sempre chegávamos “heroicamente” do outro lado da lagoa.

Gente, confesso que o brilho em nossos olhos era uma coisa difícil de descrever! Primeiro enchíamos a pança que até ficava doendo, em seguida enchíamos os “embornais” (espécie de sacolas de pano com alça) até o bico e retornávamos mais felizes que pintinhos num monte de bosta.

Ainda hoje, quando encontro um pé de araçá, que por muita coincidência do destino, na casa da minha irmã Dora aqui em São José dos Campos, tem um enorme, toda essa lembrança vem á tona.

É engraçado como certas coisas, consideradas insignificantes para muita gente, possa marcar tão profundamente a vida de outras.

Penso que, nos planos de Deus, temos muitas opções de escolha na nossa vida, no entanto somos escolhidos a viver certos privilégios.

Doces pés de araçá!!