E VIVA OS PINTOS

A senhora Amelia Pinto, que sempre foi "mulher de verdade" e o Sr. Sérgio Pinto, que nunca foi homem de mentiras, estarão completando nada mais nada menos do que meio século de vida conjugal.

A festa para comemorar tão insigne acontecimento promete ser inesquecível. Inútil, por exemplo, procurar na cidade uma costureira disponível. Todas estão, como elas mesmas dizem,  "apertadas de costura" , tal é o volume de entregas prometidas para o bem fadado dia.

Nestes dias que antecedem às bodas de ouro do Sr. Sérgio e D. Amélia Pinto, não se comemora na cidade  estas festas chatas, tipo: aniversário de sogra, baile de formatura, inauguração de obras da Prefeitura, bingo comunitário, etc. Os entrevistados alegam dois motivos principais para esta indiferença às festa rotineiras. Em primeiro lugar, porque seria como comer um sanduiche de mortadela às vésperas de uma ceia de Natal. "não tem graça nenhuma". O segundo motivo, este de ordem prática, é que todas as salgadeiras e quitandeiras de Nova União já estão a serviço da fazenda, impedidas, portanto,  de satisfazerem estes caprichos sem nenhum compromisso com a história.
De acordo com algumas pessoas na cidade, a expectativa é que a festa seja tão concorrida com a do batizado da "Germana" , uma cachaça de primeira linha, ganhadora de vários festivais do gênero e que é fabricada artesanalmente pelo Sr. Sérgio Pinto e seus filhos. Além desse referencial altamente positivo, os Pintos tem uma excelente penetração em todas as camadas da sociedade local, sobretudo entre os jovens, com os quais os Pintos sempre mantiveram  ótimas e prazerosas relações.
Numa coisa, todos são unânimes:A boa situação financeira dos Pintos, advém da produção da Germana que corre farta e líquida nas bicas do alambique da fazenda. A famosa vedete dos festivais de Minas é, inclusive, uma atração á parte ´para os convidados de pairagens distantes. Para a população local, germana não é cachaça, é remédio caseiro para curar o coração amargurado pela  pouca ou nenhuma  querência de alguma cabrocha da redondeza.

Que a festa possa corresponser à mais íntima expectativa de todos os convidados e que o sr. Sérgio e D. Amélia se orgulhem de nos legar o testemunho de que o amor venceu mais uma batalha. E o que é mais bonito:  Venceu com as forças naturais e gratuitas de sua própria existência. Não será, por certo,  a beleza e a dignidade de meio século de tão germana convivência que virá restaurar o verdadeiro sentido  do amor no coração do homem. resta-nos, pois, pedir aos nubentes que nos perdoem a falta de sensibilidade, a coragem de sermos covardes e o absoluto medo que temos de amar.