Fui pra Porto Alegre, tchau...

Fui pra Porto Alegre, tchau...

Eu iria completar 18 anos em dezembro, o ano era 1984 e estava convicto de que a melhor coisa a fazer era prestar o serviço militar.

Muitas dificuldades financeiras nos levavam a crer que a melhor saída era seguir uma carreira no exército, como sonham milhares de jovens brasileiros, mas na minha cidade, que era considerada região essencialmente agrícola e ainda sendo eu o único homem da família, trabalhando com carteira assinada isso era impossível.

Pois bem, um grande amigo da época, já que fazíamos juntos a terceira série do ensino médio, me falou que tinha um tio dele, morador da cidade de Porto Alegre, que já estava no exército a alguns anos e que por isso poderia nos ajudar nessa missão.

Combinamos a época da viagem, logo após a formatura e lá fomos nós atrás de nossos objetivos, ele conseguiu o endereço do parente e na data prevista embarcamos rumo ao desconhecido.

Para se ter uma idéia, nossa cidade deveria ter aproximadamente uns 6.000 habitantes nessa época, cidade extremamente pequena e nós sem experiência alguma de locomoção em grandes centros, com uma mala nas costas, fomos para a capital gaúcha tentar entrar no exército brasileiro. Lembro-me que era de sábado para domingo, chegamos lá, entre 5h30 e 6h00 mais ou menos, já de cara encontramos um ônibus coletivo lotado, uma galera voltando de uma festa, drogados, bêbados, umas mulatas sambando no corredor do ônibus, uma festa, aquilo já nos deixou um tanto quanto assustados, mas já que estávamos lá, o que se poderia fazer...

A dificuldade em pegar um ônibus já era grande, mesmo sendo domingo de manhã tava difícil, mas o pior estava por vir, o tio dele havia se mudado, o endereço estava desatualizado e ficamos além de tudo, perdidos...lá fomos nós atrás de telefone, novo endereço e tentar achar a casa do cidadão...um calor infernal, não agüentávamos mais andar, começamos tirando a camisa, depois foram os sapatos e as meias, arregaçando as calças, não havia quem suportasse, ainda mais para nós, vindos de um lugar frio, tava sem condições...

Foi uma aventura, entra em ônibus e sai de ônibus, o tempo passando, fome, calor, bolha nos pés e nada de encontrarmos o endereço indicado. Vagamos pela cidade, de bairro em bairro, obtendo informações daqui e dali, comendo na rua com uns trocados que tínhamos levado e só fomos encontrar o endereço depois das 5h00 horas da tarde.

Sem contar que num desses desembarques de um ônibus lotado, eu perdi o contato com meu amigo que estava bem mais perto da porta, ele desceu e eu no desespero, caipira de tudo, empurra daqui, empurra dali, o ônibus já andando e eu me joguei porta a fora, sai rolando no asfalto, me esfolei todo, só pude ouvir as gargalhadas dos passageiros, que por certo teriam história para contar naquele dia...

Por fim, chegamos ao destino, num estado deplorável, mas chegamos, ficamos lá uma semana e meu amigo conseguiu seu intento, mas eu não tive a mesma sorte, pois para completar, descobri que tinha perdido o prazo, já que era alguns meses mais velho que ele...

Retornei sem conseguir o que queria, mas tenho certeza absoluta que essa viagem ficou marcada em minha vida, como a primeira grande aventura, das muitas que fiz ao longo dos meus bem vividos 43 anos...

Adilson R. Peppes.

Adilson R Peppes
Enviado por Adilson R Peppes em 19/01/2010
Reeditado em 20/11/2014
Código do texto: T2038917
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.