Casamento no interior.

Um Causo de Casamento em Itabira.

Em Itabira lá pelos idos anos 60 as crianças tinham uma verdadeira paixão pelos salgadinhos e doces dos casamentos e batizados. E num destes casamentos aconteceu uma coisa muito engraçada.

Era um casamento de um parente no bairro Pará, e para lá seguimos, Lalai, Guiguito, Marcio de dona Corina, Zé Ulisses de Simonil, Dorão filho do saudoso Sr. Argemiro e eu.

Era um casamento a mais, porém com a diferença, de que estávamos convidados por se tratar de família. Sabíamos que não íamos ser escorraçados como normalmente acontecia, com estes meninos “penetras” de festas no bairro Campestre.

Vale salientar, que nestes casamentos normalmente e sempre como coisa de interior, tinham as “fazedeiras” de salgados e doces, bem como as especialistas em fazer o almoço dos padrinhos e familiares, normalmente regado a carne de porco, macarronada e arroz com caldo de frango caipira, não podendo faltar o famoso tutu mineiro com aquelas lingüiças a enfeitá-lo. Lembro de algumas destas “fazedeiras” como a Nhanhá irmã do Dorão, Dona Nega de Joaquim Carioca, Dona Lilinta, e outras que me falha a memória.

A gente tinha a confiança e a certeza, que nos casamentos onde estas senhoras estavam prestando este serviço, que a gente poderia ir tranqüilo, que seriamos bem atendidos, quando de acesso ao “quartinho de salgados”, parte da casa que se reservava, para guardar os comestíveis e bebidas a serem servidos. Era uma vitoria enfrentar aquela fila para acessar o tal quartinho e ali se farta de guloseimas.

Então neste casamento do Pará, quando estávamos na fila do quartinho, um tio, dono da festa, e para nossa alegria, ordenou que nos dessem o acesso, pois sendo crianças teríamos que voltar para casa mais cedo. Tinham por costume, que crianças eram servidas durante o dia. Uma alegria geral invadiu a turma citada. Enquanto isto na vitrola tocava musicas da Jovem Guarda e o povo dançava na maior paz e alegria.

Lembro que foram colocados vários pratinhos de papel sem guardanapos, não se usava isto naquela época, com os vários salgados e doces, eu adorava as empadinhas e pasteis da Nhanhá. Para beber foi servido QSUCO de groselha ou morango como sempre serviam as crianças.

Tudo estava indo bem, com reposição farta das iguarias, com a gente se sentindo meninos reis. Quando de repente o travesso Lalai não satisfeito de tanto se fartar, lembrou que não tinham servido ainda aqueles pedaços de frango “fritins”, que a gente deliciava. Intuitivamente ele viu que ali onde estávamos encostados, tinham umas latas grandes, dispostas numa prateleira. Normalmente se usavam para colocar as carnes fritas e aquele famoso lombo de porco a ser fatiado e que as mesmas estavam cobertas com um branco e alvo pano, feito de sacos de açúcar ou trigo, adquiridos no “Armazém da VALE”. Sendo assim só poderiam estar ali guardados. Eram servidos aos adultos com suas cervejas geladas em tambor com gelo e serragem, as batidas, calcinhas cor de rosa, leite de onça, cachaça e outras tantas bebidas da época.

Então o Lalai articulou que a gente fizesse uma barreira humana nas latas e Zé Ulisses, seria o responsável para curvar o braço e retirar os pedaços, que seriam passados para nossa reserva e posterior comida, quando sairmos do quarto. Assim se procedeu e quando tínhamos a certeza da eficiência da barreira, o Zé Ulisses conseguiu sua manobra e enfiou sua mão na lata. Seu olhar petrificou como se tivesse visto “mula sem cabeça”, neste instante o Lalai começou a rir, pois percebera, que na realidade a lata estava cheia de gordura de porco, oriunda da fritura do toucinho do porco, que fora sacrificado para fornecer carnes para o casamento.

A turma não se agüentava diante da situação com o Zé Ulisses estático, petrificado deixando a gordura pingar atrás de suas costas. Quando o Lalai conseguiu usar o mesmo pano e fazer uma rápida e insuficiente limpeza do braço do Zé.

Com o riso preso e de maneira atabalhoada, procuramos sair de fininho e deixando o maravilhoso quarto com todas suas guloseimas. E quando a rua se fez perto e firme sob os pés, explodimos numa gargalhada geral. O Zé teve de conviver com a gozação por longo tempo. Este acontecimento foi tao marcante, que teve de ser reprisado vezes e mais vezes, aos irmãos mais velhos e outros garotos da rua.

Ainda hoje, esta lembrança parece viva na minha mente e sempre que vou a um casamento naquela modalidade, não vejo outra coisa senão a imagem da falta de graça de do Zé e sempre que nos encontramos, somos forçados a relembrar esta situação.

Atr.2006

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 25/01/2010
Código do texto: T2050922
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