" Zé Gatuno"

Da série: Estórias da fazenda Guanabara.

José Baptista de Oliveira – “Zé gatuno”.

Ainda menino, me mandaram ir morar em Salvador mais minha vó Izaura, a mãe de meu pai, para que eu estudasse. Naquele tempo, quem tinha algum recurso no extremo sul da Bahia, usava desse expediente, devido a falta de boas escolas. Algum tempo depois, foi também para Salvador e para casa de minha vó, um garoto magro, cabo verde como chamavam aqueles que tinham a cor escura e os cabelos lisos. Seu nome era José Baptista de Oliveira. ”Pega o pinto na carreira”. Já fui eu que acrescentei essa parte. Tinha nada a ver.

O cara, corria que nem o cão. Quem era esse Assan Bolt para ganhar dele. Coloquei logo o seu nome de “Zé perequeté”.

Sei nem o que significa, mas pegou legal. Tirei de uma brincadeira ( Zé perequeté, tira o bicho do pé pra tomar com café)

Ele chamava minha vó, também de vó. Não por que me via chamá-la assim, mas por que sua mãe, chamada Esmeralda, dizia-se filha do meu avô. Então, era vó mesmo. Dizer o que?

Fui encarregado por D.Izaura, a minha vó, de ensinar Zé, a ler e a escrever. Uma coisa só já era difícil, imagine as duas. Mas ordens eram ordens e eu tinha de cumpri-las.

Primeiro passo: comprar o A.B.C. e ensinar as letras. Aprendida essa fase, ensinar a ler a cartilha. Comprou-se-lhe uma que tinha a palavra dividida em sílabas e logo à frente, a figura representativa desenhada.

Moleza!!!

Não para Zé.

Es – ca – da e logo à frente, o desenho de uma.

- Vai Zé, o que é que está escrito? E nada.

De outra vez lá estava escrito: Hé-li-ce.

– E aí zé?

Ele prontamente, olhando a figura respondeu: catavento.

Foi hilário. A maior gozação.

Até que um dia, Zé sabia o que estava lendo. A primeira palavra veio corretamente e sem o meu auxílio. Ele vibrou. E eu também, claro. Depois de tanta luta!

- Zé, você já sabe ler. – disse eu.

- Vá dizer a minha vó, que você já é gatuno.

– O que é isso? Perguntou ele.

– Gatuno, é o cara que sabe ler.

Ele nem pestanejou. Correu para o quarto em que minha vó estava descansando, e gritou eufórico:

- Minha vó, eu já sou gatuno minha vó.

Ela só não caiu por que estava deitada.

– Você ta doido menino?

- Gatuno é ladrão. Concluiu.

Até hoje, se chamarem ele Zé gatuno, pode preparar pra correr, que é briga na certa.

Lannes Almeida
Enviado por Lannes Almeida em 24/03/2010
Código do texto: T2157088
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