MÁRIO E MARIA

MÁRIO E MARIA

Mário e Maria eram gêmeos idênticos. Parecia que, desde o útero já combinaram que, quando nascessem, iriam aprontar todas. Tinham o mesmo formato do rosto; a mesma pintinha – doce e linda pintinha – no lado esquerdo da face, sobre o lábio superior; os mesmos cabelos arruivados, caracolados, por isso, sempre cortados curtos. Quem não os conhecesse, não saberia distinguir qual deles era o menino ou a menina. Sempre andavam juntos, onde quer que estivessem. Desde que aprenderam a caminhar – precocemente – foram companheiros inseparáveis nas travessuras que inventavam. Sempre atentos a tudo, inteligentes, traquinas e lépidos. Olhos verdes enfeitando as sardas que deixavam seus rostinhos ainda mais mimosos.

Como era o casal primogênito da família, os pais achavam graça em suas travessuras. Enquanto não estivesse em perigo sua integridade física e não incomodassem os visinhos, achavam nisso um divertimento e, até, os incentivavam.

Mas eles foram crescendo. Eram ambos da mesma estatura e da mesma massa física e intelectual. Acontece que sua cabecinha somente servia para planejar traquinices. Tinham entre sete e oito anos e seus planejamentos já superavam o trivial básico das crianças da sua idade. Notando isso, os pais, como bons educadores que se saíram, aconselharam-nos a, entre uma e outra brincadeira, começassem a praticar alguma boa ação. As boas ações, disseram-lhes, praticadas agora, iriam educá-los para a vida, quando adolescentes.

O casal de malandrinhos pôs em prática a sugestão dos pais. Carregaram as compras de uma vizinha idosa, que fora fazer algumas comprinhas no mercado da esquina; ajuntaram do chão e entregaram o guarda-chuva de um senhor bem velhinho e coisas assim. Os pais estavam radiantes com os rumos que tomavam as vidas dos meninos.

Certo dia os dois foram comprar pão na padaria de uma das ruas próximas. No seu retorno, alegres e sorridentes como era seu perfil, trazendo o pacote de pão, dirigiram-se direto ao pai, que já os esperava para tomar seu café e depois ir ao trabalho. Mais faceiros que de costume, disseram-lhe que já haviam feito sua boa ação do dia.

– Muito bem, meus filhos! Estamos, eu e sua mãe, muito orgulhosos de vocês! Qual a boa ação que praticaram hoje, posso saber?

– Quando chegamos à padaria do seu Manoel vimos uma velhinha do outro lado da rua e a ajudamos a passar a rua para ela comprar pão.

– Bravos! É assim que se faz.! Mas, donde vem essa mancha rocha, Maria? E você, Mário, está sangrando na cabeça? Levaram um tombo coletivo outra vez?

– Não, pai, eu explico. Foi a velha safada que nos agrediu com o guarda-chuva. Ela não queria vir comprar pão. Estava indo para a farmácia do outro lado da rua.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 31/03/2010
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