Boi no Rolete

Para quem não sabe, é aquele boi que assa inteiro (para quem sabe assar evidentemente, o que não foi o caso deste conto).

Por ser um caso verídico, todos os nomes aqui citados são reais e a maioria deles poderão ser encontrados na cidade de Monteiro Lobato no Bairro dos Souzas.

Como é que se faz um boi no rolete heim?!!

Foi com esta pergunta que, entre uma cerveja e outra, surgiu o assunto numa roda de amigos, no bairro dos Souzas.

Muitas explicações surgiram, algumas até convincentes, e o assunto tomou conta daquela noite, até que Amauri Rosa, famoso festeiro da região, sugeriu:

Que tal fazermos no nosso próprio boi no rolete?

A princípio, houve um certo espanto até que eu falei: Se arrumarmos o boi, o local está garantido. Será feito na minha chácara.

Pronto, estava ali lançado o desafio. E que desafio! Conforme poderemos ver a seguir.

Dia seguinte, fomos falar com o Sr. Alcides Rosa, pai de Amauri, sobre a nossa idéia o qual de imediato falou: “Não deixem de fazer aquilo que estiverem com vontade, desde que esteja dentro das normas”, e acrescentou: “O boi é por minha conta”. Homem positivo igual aquele é raro de se encontrar.

Se faltava motivo, agora não faltava mais. Ficando combinado entre Amauri Rosa, Paulo Kostella e Toninho Frangão o dia em que assaríamos o nosso primeiro e único boi no rolete. Dia 02 de outubro de 1999.

Pois bem, a notícia se espalhou e não se falava em outra coisa a não ser no benedito, digo, no boi cujo.

Começaram os preparativos: A chácara foi devidamente preparada para receber os convidados e evidentemente, o boi.

Foi aberta uma enorme vala onde ele seria assado, barracas foram montadas, uma banda de música foi contratada, um bar foi improvisado, estacionamento, segurança, etc e a euforia tomava conta de todos os envolvidos.

Na semana que antecedia o acontecimento, uma festa de rodeio ocorreu na cidade de Monteiro Lobato e resolvemos por bem anunciar a todos o que estaria por vir na semana seguinte. Até convites foram distribuídos.

Ficou combinado que o boi seria abatido na cidade e levado para a chácara para ser devidamente temperado, numa sexta feira.

De fato, à tarde lá estava ele. Um enorme boi, com suas 14 arrobas. Um exagero por parte do Sr. Alcides Rosa.

De meia noite de sexta em diante o boi foi colocado para assar, sob a enorme vala já preparada.

Considerando que as tarefas não eram fáceis e também a inexperiência de todos, o cansaço veio imediatamente, ficando apenas eu e um rapaz por apelido de Kide, encarregados de manter o fogo aceso e virar o boi “manualmente” toda vez que achássemos conveniente.

Naquela noite apenas eu e Kide não dormimos. Amauri, Toninho Frangão e Zé da Bota assumiram esta tarefa quando o dia já amanhecia.

Conforme anunciado, ele seria servido a partir das 19:00 horas, mas a partir do meio dia já tinha muita gente por lá, até por conta da curiosidade.

A estimativa é que receberíamos em torno de 500 pessoas, naquele sábado e até que poderia se confirmar a não ser por um inconveniente. Um tremendo e repentino temporal que caiu naquela noite.

Tivemos que improvisar muita coisa: Cobertura pro boi, novas barracas, instalação da banda, estacionamento, banheiro, entre outras coisas.

Conseqüências negativas imediatas:

Não apareceram 1/3 das pessoas que previmos (a estrada era de terra e muita gente não conseguiu chegar e outras nem saíram de casa);

A banda tocou para meia dúzia de gatos pingados que se arriscavam dançar no lamaçal, que se formou;

Menos da metade do boi foi consumida, e o restante se perdeu por prazo de validade;

Minha casa parecia um chiqueiro de tanto entrar e sair gente, sendo necessário um mutirão “numa ressaca braba” para limpa-la no dia seguinte;

Toninho Frangão bateu o carro de madrugada quando foi levar seu pai para a cidade, tendo que leva-lo ao hospital (nada grave com o Sr. Afonso).

Conseqüências positivas:

Não sobrou cheia nenhuma garrafa, lata ou qualquer recipiente que contivesse bebida alcoólica;

Aprendemos com a experiência de que entre teoria e prática, existe uma gigantesca diferença;

Quem esteve lá, até hoje comenta que aquela foi uma das maiores loucuras que se viu por aquelas bandas;

Hoje em dia, os serviços de metereologia são levados mais a sério;

Aprendemos finalmente que: Quem tem espeto pequeno não marca compromisso com boi grande.

Como miséria pouca é bobagem, à noite minha pampa não pegava nem com tosse de vaca. Arrumei uns companheiros “mamados” pra me auxiliar, o que me causou muito arrependimento. Um deles (penso que foi o Sr. Valdomiro), colocou pinga com coca no carburador, achando que era gasolina. Prontinho, agora só rebocando no outro dia. O que foi feito por Carlinho Auríchio.

Quero registrar aqui alguns nomes que tiveram participação de uma forma ou de outra neste evento: Professor Armando, Tarcísio e José Lima – O Berrante (in memoriam), João Carlos, Paulo Marques, Sérgio Coruja, Edjelson, Meu cunhado Ailton, Meu irmão Cláudio, Luiz Marques e Alan

Se tal evento tivesse feito com fins lucrativos, teríamos dado literalmente com os burros (neste caso com boi) n’água.