NAMORO OU AMIZADE? = EC

Kika acordou muito cedo, como sempre fora o seu hábito e, como o café da manhã só seria servido às nove horas, resolveu sair um pouco, dar uma volta pela redondeza..

Pé ante pé para não acordar a casa adormecida, saiu para o jardim, sentou-se em um banco de pedra e ficou esperando o nascer do sol.

E, então, começou a lembrar os últimos incidentes de sua vida..

Ela e o Neco, já bem velhinhos, moravam sós.

Os filhos adultos, casados, sempre estavam a postos para qualquer necessidade, mas os dois tinham sua vida independente.

Quando ficou viúva, no entanto, os filhos acharam que ela não devia mais morar só, mas nenhum deles tinha condição de hospedá-la em sua casa e ela também não queria isso.

Dava-se muito bem com todos, mas, cada qual na sua casa.

E foi então que acabaram achando que a melhor solução seria ela ir para uma Casa de Repouso, onde teria a assistência de que precisasse e a companhia de pessoas de sua idade.

Aquela fora sua primeira noite na nova morada.

O lugar era aprazível, a casa confortável, o que de melhor encontraram no gênero, mas, não podia deixar de sentir certa melancolia.

Estava tão absorta em seus pensamentos que só percebeu que um homem sentara-se a seu lado quando ele falou com ela:

- Bom dia! Como passou a noite?

Ele tinha mais ou menos a sua idade e estava morando na Casa pelos mesmos motivos que ela.

Apresentou-se:

- Meu nome é Antônio de Pádua Meireles, mas pode me chamar de Tô, como todo mundo

- E o meu é Maria dos Anjos Almeida, mas, todos me chamam de Kika.

Os dois gostavam de conversar e como a simpatia foi recíproca, ficaram logo muito amigos.

Faziam caminhadas juntos, trocavam livros, jogavam cartas, batiam papo.

Como não podia deixar de ser, logo começaram os comentários.

- Será que estão namorando? Nessa idade? Que absurdo!

Clarinda, uma velhinha meio esclerosada advirtiu-a:

- Cuidado com o Tô. Ele é um galanteador! Namora todas as mulheres daqui.

Kika limitou-se a rir.

Explicar pra que? Ela nunca ia entender mesmo.

E sorriu para si mesma:

- O Tô é um bom amigo, muito querido, mesmo, mas galanteios só recebi em toda minha vida do Neco. Todas as palavras de amor que ele me disse durante os cinco anos de namoro e mais de sessenta de casamento, eu guardo no coração e quero levar comigo para a Eternidade.

***

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma Lembrança para a Eternidade

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Maith
Enviado por Maith em 23/04/2010
Código do texto: T2214355