Pau Brasil

Pau Brasil

O clube da AFBDMG, aqui em Belo Horizonte, durante muitos anos serviu de ambiente de convivência e socialização de nossas famílias.

Membros de sua diretoria, reuniam aos domingos bem debaixo de um Pau Brasil, numa mesa farta em que sobressaía a carne de sol com mandioca( dois pêlos ) - de Montes Claros - frango à passarinho, dobradinha com feijão branco … E para beber, o Joãozinho Andarilho e o Cavalinho passeavam sobre a mesa, sem pudor.

Delmo, recém-chegado de Ipatinga, foi logo se enturmando com os colegas e passou, juntamente com seus filhos, a fazer parte da família.

Ele ficou sabendo que, em uma determinada época, uma ventania derrubou uma árvore de Pau Brasil e o clube teve que plantar outra em seu lugar. Quando ele chegou, a esta altura do campeonato, a nova muda já estava bem crescida.

Todos os domingos, Delmo, assentado debaixo daquela árvore fazia a sua leitura matinal. Por momentos, quem o visse bebendo da leitura, parecia em êxtase total. Aquele local parecia lhe trazer o recanto do Éden; fonte de realizações mentais.

Um belo dia, ele, em confidências comigo, relatou-me do prazer que tinha em saborear uma leitura debaixo de uma árvore com a conotação que o Pau Brasil tinha para nós. Para ele, de sua tintura deveria sair o verde-amarelo de tão significativa ela era.

Foi então que eu interferi e disse-lhe que, sem querer contrariar a sua nostalgia e reverência, mas que havia um equívoco nisso; pois ele estava debaixo de um Ipê e não, de um Pau Brasil.

Ele então, decepcionado, falou para mim que eu havia feito secar a sua fonte de inspiração. Que fiz muito mal em ter confessado isso a ele, pois o que mais o aprazia era pensar que estava relaxando debaixo daquela árvore e realizando sua viagem nos livros. Para ele, poderia permanecer no engano.

Disse mais ainda, que quando algum conterrâneo lhe telefonava e perguntava o que estva fazendo, ele então respondia:

_ Estou nutrindo do saber à sombra de um Pau Brasil, com uma visão panorâmica, que com certeza, na mata não veria. Isto, também eu afiançava. Só que, as peças que compunham este cenário, possuíam um pouco mais de roupa que nossas nativas.

Fiquei tão sentido com o desprazer que lhe proporcionei, que num Estalo de Vieira, sugeri que deveria assentar-se do outro lado, mas na mesma orla da piscina, pois ali, o vento não havia derrubado a outra árvore de Pau Brasil.

Se vocês observassem o aspecto de alívio em seu semblante, parecia o gozo total. E ele entâo, falou-me:

_ Graças a Deus, Calazans! Ainda bem que eu só havia errado de árvore. Desabafou ele.

_ Você ouviu a galinha cantar, mas não sabia em que ninho havia botado. Respondi-lhe, descontraindo a prosa.

Bons tempos foram aqueles.