Feioso

Quando era criança e moravam na pequena cidade que nasci aqui no interior de Goiás, apareceu por lá, um cachorro sem dono, todo sujo, coberto de chagas devido a grande quantidade de bernes e carrapato que pegou ao andar pelos pastos, com sarna, muito magro de tanto passar fome.

Esse cachorro era branco, com pintas pretas, ninguém lá sabia que raça ele era. Mas, lá na minha cidade, isso não tinha a menor importância ninguém ligava pra raça, cachorro eram cachorro e ponto final. Só quando me tornei adulta é que, descobri que se tratava de um dálmata.

Ele vivia perambulando pelas ruas de terra da minha cidade a caça de um dono. Mais ninguém o queria devido ao estado lastimável dele. Um dia meu tio irmão de minha mãe que morava conosco disse assim para o meu pai

-O que você acha se eu pegar aquele cachorro e trarei aqui pra casa? Porque a situação dele é fazer dó, corta o coração vê-lo doente e passando fome.

Meu pai ficou calado, porque como diz o ditado quem cala, consente. Mas, na realidade a idéia de trazer o cachorro para casa, tinha sido dele. Para não criar atrito com a minha mãe, havia conversado com meu tio e combinado tudo até o que meu tio iria dizer. Porque ele sabia da opinião da esposa. Que respondeu para o meu tio,

-Não! Não quero esse cachorro aqui em casa, você não vê a situação dele? De como está cheio de sarnas? Isso pode pegar nas meninas e até em vocês.

Meu tio respondeu,

-Não vai não, vamos tratar e cuidar dele.

Minha mãe não teve argumento com ele, tudo que dizia ele tinha a solução. Até que ela disse,

-Faça o que vocês acharem melhor, mais só não deixe esse cachorro chegar perto das meninas.

Então meu tio pegou uma corda, laçou o cachorro e o levou para o quintal de casa. Meu pai pegou um vidro de creolina, jogando nele para matar os bernes. Lembro-me muito bem de ver meu tio espremendo as feridas para tirar os bernes. Esse processo era feito a cada dois dias.

Passado uns dias, uns amigos do meu pai formam passear lá em casa e vendo o cachorro perguntaram,

-Qual é nome desse cachorro?

Meu tio que estava perto respondeu

-Feioso esse é o nome dele.

No que eles disseram,

-Nome mais do que apropriado.

Passado alguns a mais e o Feioso sarando e engordando, e todos viram que de feio, ele não tinha nada. Aliás, ele era um animal muito bonito. Mas o nome continuou a ser Feioso o nosso Feioso. Depois de ele ter sarado por completo, todo mundo que ia lá me casa, pedia o Feioso para eles, no que minha mãe dizia,

-Feioso já tem dono, que somos nós, ele é parte da minha família.

E era mesmo, pois até hoje tenho saudade dele, porque ele era um grande amigo e companheiro que tivemos desde o momento que ele entrou em nossa casa. Porque mesmo que minha mãe dizia que não queria que chegássemos perto dele por estar doente, nós não saímos de perto, estávamos sempre ajudando meu pai e meu tio a cuidar dele.

Essa é a história de um lindo cachorro que foi adotado por nós com o nome de Feioso, mas que para nós era lindo desde o momento que ele cruzou a porta de entrada da nossa casa.

Lucimar Alves

Lucimar Alves
Enviado por Lucimar Alves em 05/06/2010
Código do texto: T2301580
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