UMA LIÇÃO DE AMOR

56 – LIÇÃO DE AMOR

Quando Bernardo abriu sua micro empresa levou o Chico para trabalhar com ele.

Começou com uma portinha, pouco dinheiro, muita esperança e, sobretudo muita garra.

Com a ajuda do funcionário, mais amigo do que empregado, foi ampliando e, ao fim de algumas décadas, era proprietário de uma verdadeira potência econômica.

Os dois filhos, Bernardinho e Márcio, administradores de empresa, e Carlos, o genro, economista, eram sócios, mas nada mais faziam do que compartilhar dos lucros. Quem trabalhava de verdade era o Bernardo e o Chico.

Tudo foi muito bem até o dia que Bernardo, acometido por uma rápida enfermidade, veio a falecer.

Dizem que “uma desgraça nunca vem só”. Verdade ou não, o fato é que, logo depois, o Bernardinho foi acometido por um grave problema visual e perdeu as duas vistas.

Tudo isso abalou muito a todos e a “Bernardo & Filhos” começou a ir pra trás.

O Chico começou a apresentar sinais de senilidade, fez umas transações infelizes que redundaram em prejuízo e os “meninos” resolveram dispensá-lo. Ele já tinha mais do que tempo suficiente para se aposentar e agora parece que estava começando a ficar gagá.

Carlos implicava muito com ele. Achava que ele ganhava muito para um funcionário que não tinha formação superior.

Bernardinho desde que perdera a visão tornara-se neurótico, de mal com a vida, brigando por qualquer coisa como se todo mundo tivesse culpa da sua infelicidade e o Márcio sempre foi um fraco dominado pelo irmão.

Chico ficou muito aborrecido. Insistiu para continuar mais um pouco, ao menos até que a empresa se firmasse de novo. Tinha apego por aquele patrimônio que ajudara a erigir e, quanto aos “meninos” vira-os crescer. Para ele ainda eram crianças incapazes de dirigir os negócios.

Mas, eles foram inflexíveis. Acabaram discutindo e o Chico saiu dizendo:

- Não dou um ano e vocês estarão falidos!

Saiu desapontadas, cabeça baixa, muito aborrecido e ninguém mais soube dele.

.O Chico tinha razão. Apesar de seus títulos, os três doutorzinhos eram incompetentes e, em pouco tempo, caiu por terra todo aquele império erguido a custa de tanta determinação e tanto suor.

Os “meninos” não tinham tarimba nem fibra. Nunca tinham tomado conhecimento dos problemas da empresa e, imaginavam ingenuamente que o dinheiro caia do céu. Agora estavam perdidos sem saber como nem por onde recomeçar.

Foi Márcio que viu a notícia no jornal:

- Olhem quem morreu! O Chico!

- Aquele safado, esbravejou o Bernardinho. Viveu a nossa custa tanto tempo e saiu rogando praga! É o maior culpado do que nos aconteceu!

- Também não é tanto assim, contemporizou o Márcio. Papai sempre dizia que ele era o seu braço direito.

- Um braço direito movido a ouro, interveio o Carlos. Seu Bernardo pagava para ele um salário absurdo! E ainda confiava tanto que é bem capaz que nos roubasse, também. Pra mim, ele se aproveitou da morte do patrão e deu um desfalque, por isso a firma faliu tão depressa.

- Se foi assim, a estas horas ele estará prestando contas lá em cima. Não precisamos condená-lo, tornou o Márcio.

- Que o Inferno o receba com as pompas que merece, completou o Bernardinho.

Ainda falavam do Chico, raivosos, quando o telefone tocou

Era para o Bernardinho. De um hospital.

Uma boa notícia! Acabavam de receber uma doação de córnea e o doador, Francisco Pais de Menezes (Chico) estipulara que queria que fosse ele o beneficiado.

O transplante de córnea era a única esperança para o Bernardinho recuperar a visão, mas, até então, tinha sido impossível porque, na época, ainda era novidade. As pessoas tinham muito medo e eram raríssimas as doações.

E, assim o Bernardinho recuperou sua visão e ainda recebeu de troco uma maravilhosa lição de amor.

Maith
Enviado por Maith em 06/07/2010
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