Reminiscências 18

Os Circos

Este relato, postado aqui no RL em 25/03/2008 sob o título Memórias do Circo, por fazer parte desta série, publico-o revisado.

O período da minha infância até a juventude foram marcadas por uma relação muito estreita com o Circo. Já na fase adulta esta relação foi ficando menos intensa por várias razões. A consciência sobre o maltrato de animais foi uma delas.

Naquela ocasião os únicos animais que faziam parte do espetáculo eram Bois e Cavalos dos circos de rodeio e aqueles da minha geração não tinham consciência do que aquilo representava.

Mas não é sobre isso que quero falar e sim de certos acontecimentos que trago na lembrança desta maravilhosa relação.

Como não poderia deixar de ser, toda vez que chegava um circo um minha pequena cidade, a euforia tomava conta de todos.

Lembro-me claramente de alguns deles, inclusive dos seus nomes:

Circo do Mirinho – Este de touradas que inclusive meu pai e outros fazendeiros cediam animais para serem toureados e montados.

Os toureiros, Mirinho, Canário e Bolacha eram bastante conhecidos na cidade. Neste circo, eu, meus pais e irmãos tínhamos entrada grátis por conta do boi BOLERO e outros.

Porém os fatos mais marcantes aconteceram em outro circo de palhaços que era denominado “Coisinha e sua Cia.”. Neste tínhamos que entrar por debaixo da lona se quiséssemos assistir aos espetáculos.

Eu e meus amigos (Melinho, Tonico, Tarcísio, Geraldinho e outros) chegamos a montar um pequeno circo com pedaços de lonas e cobertores velhos, onde a gente procurava imitar tudo aquilo que nós aprendíamos lá.

Morávamos na rua do Sapo que ficava paralela ao rio sapucaí, e este circo se instalava do outro lado do rio.

Em uma de suas estadas na minha cidade este circo realizou oito espetáculos e nós assistimos a todos, sempre entrando por baixo da lona.

O Plano era simples, atravessávamos o rio que era raso e esperávamos a hora exata de penetrar, contando ainda com a precariedade da segurança.

Foi numa dessas ocasiões que ocorreu o episódio mais engraçado e marcante.

Eu tinha um primo que não fazia parte de nossa turma. Esse infeliz tratava sempre de prestar serviços ao circo (vendendo pipocas, pirulitos, amendoins e outras guloseimas) garantindo assim estar dentro do circo durante os espetáculos.

Até aí tudo bem, cada um na sua, se não fosse a fama de puxa saco e dedo-duro que ele tinha.

Como nossas relações não andavam lá essas coisas, percebi que teria problemas com ele em uma das apresentações, quando ele nos esnobava e dizia que naquela noite ele fora convocado para fazer parte em um dos números.

Levou uns cascudos no “pé da orêia” e voltou para casa prometendo que se ele visse algum de nós na arquibancada ele iria nos dedurar.

E não deu outra, naquela noite, após eu e um de meus amigos, como de “praxe” furar a lona e sentar-mos sorrateiramente na arquibancada aparece o benedito cujo com um dos empregados do circo que, imediatamente nos colocou para fora.

Conseqüência: tivemos que repetir a operação mais tarde quando o espetáculo já havia começado, mas em tempo de ver a “apresentação” do nosso desafeto.

O número consistia numa luta de Boxe entre meu primo e um outro garoto. Estava um de cada lado do picadeiro somente de bermuda e luvas. Foram dadas instruções para que eles se encontrassem no meio do picadeiro e se cumprimentassem antes de começar a luta.

Quando estavam se cumprimentando e a atenção de todos voltada para eles foi que ficaram apenas de luvas, uma vez que suas falsas bermudas haviam sido puxadas por uma corda de nylon amarradas previamente na parte posterior, pelos funcionários do circo.

Diante daquela situação, ficaram desorientados, sem saber para onde correr e acabaram se escondendo nas tendas dos demais apresentadores, sob gargalhada geral de todos.

Nossa “vingança” estava consumada.

Nos espetáculos que se seguiram não notamos a presença do “disinfeliz” entre os vendedores de guloseimas.

Ainda tiveram que agüentar a gozação na escola, na rua e em casa por um longo período.

Penso que podem tirar muitas coisas da gente, mas as boas lembranças daquilo que vivenciamos, ah isso ninguém tira!!