Um dia de lixo em minha vida...

Eram seis da manhã e o relógio já anunciava o início de uma nova jornada de trabalho. Espriguecei-me e virei-me de um lado para outro da cama, querendo ficar um pouco mais debaixo do cobertô macio. Embora levemente alimentando a imaginação de estar sobrevoando a minha própria cidade, pois meu ventilador fazia uma barulheira estrepidante que mais parecia um helicóptero pousando do que umas simples hélices feitas para minimizar o calor, ainda assim teria que levantar-me e não ficar hibernando aquelas horas igualzinho a um urso escondido em sua caverna.

Foi aí que meio a este transe hipnótico de vôo e fantasia, pude cair de súbito na realidade sobre a especialidade daquele dia. Ora, ora, era uma sexta-feira, nada mais ou nada menos o dia do lixo passar em minha rua.

De súbito levantei-me e tracei sobre uma reta as atividades necessárias para que eu atingisse meu estado de aprontamento e embarcasse naquela obrigação de levar o lixo até sua destinação devida. Finalmente, após concluir esta etapa de lanche, banho e odores por todos os lados, peguei minha bolsa preta enorme, tão discreta quanto um elefante dentro de um elevador, marchei até a porta da rua com o saco do lixo em punho na mão esquerda. Ao abrir o portão de acesso a rua, juntei os dois volumes em uma mesma mão e segui caminho. Dai fui rumo a parada do ônibus levando além da minha bolsa, o famoso saco de lixo. Até aqui tudo bem, nada de constrangedor, porém jamais poderia imaginar que um simples lixo fosse causar tamanho embaralhamento e dúvidas nos atores sociais envolvidos com este episódio. Continuando o trajeto normalmente até o trabalho, sinalizei para o ônibus e subi tranquilamente como acontece todos os dias...foi somente na hora de pagar a passagem que percebi o indesejado do acontecido! Pasmem todos!!! O maldito lixo ainda estava comigo!!! Não querendo muito dar ouvido a voz de minha consciência, pois somente eu sabia da bagaceira, resto de comida e papel higiênico usado conduzido naquele saco, tive um gesto sutil e sorrateiro de pedir licença a uma senhora para sentar ao lado dela e foi ai que estrategicamernte e escorregadio coloquei a mão para fora e deixei cair propositalmente o saco pela janela. Para minha surpresa e susto escutei vozes advindas por tráz de mim, a formar um coral de solidariedade a ecoarem todas ao mesmo tempo em meus ouvidos:

MOTORISTA PARE O ÔNIBUS!!! O HOMEM PERDEU O SACO!!!

Acho que nessa hora, um aluvião de perguntas se desenrrolaram em busca de um entendimento que ninguém o detinha... nem mesmo eu!!! Por que o motorista foi parar aquele ônibus dando ouvido a uma conversa tão sem futuro? Por que? Por que tanta solidadriedade por uma situação desconhecida a todos? Por que?

A voz de barítono desafinado do motorista a irritar-me os ouvidos preencheu todos recônditos daquele enlatado gigante:

POIS NÃO MOÇO!!! PODE DESCER PARA PEGAR O SEU SACO!!!

Levantei-me da cadeira com a respiração presa e o coração saltitando, sem saber como e a quem agradecer aquela enrrascada de mal gosto que estava metido...desci do ônibus tal como um robô programado a não olhar para tráz e segui entrando na primeira rua que estava a minha frente. Não lembro mais de nada, só sei que a cada passo que dava, mais me distanciava do lixo e daquela gente confusa pelo suposto “BEM” que fizeram-me...Que bondade, hein!!!

Todos nós temos um dia de LIXO em nossas vidas que poderá ser tão marcante quanto este, principalmente quando o som da buzina de um ônibus for registrado no nosso subconsciente...qual música triste para ser lembrada, sempre que tocada !!!

Sueudo Rodrigues

Sueudo Rodrigues
Enviado por Sueudo Rodrigues em 27/09/2006
Reeditado em 30/09/2006
Código do texto: T250655