AS ESTÓRIAS DE CHICO BUTINA (O CAÇADOR DE ONÇA)

Este fato ocorreu mesmo, segundo a afirmação de Chico Butina em mais uma seção de causos, contados na pequena praça da pequena cidade de Tatingá, nos cafundós de Minas Gerais.

Diz a Lenda, que Chico Butina era descendente de família de bravos caçadores, onde só não caçavam assombração porque as mesmas por medo, nunca apareceram por perto deles...
Sendo assim, aquilo que sobrava sobre a terra, logo era abatido pelos fortes guerreiros butinenses.

E com Chico Butina não era diferente. Um dia estávamos na velha pracinha desperdiçando nossa sobra de tempo com os causos que aconteceram por lá.
Conversa vai, conversa vem, até que o assunto abordado foi o ataque de onça na fazenda do Seu Elizeu.
A danada da onça invadira a fazenda do coitado e viera a matar um bezerro recém nascido. A bicha era tão tinhosa que arrastou o pobre bicho sei lá pra onde, só se sabe que ninguém achou nem o resto daquele animal.
Nisso, alguém decide cutucar Chico Butina, dizendo assim...

"Ei Chico, você vem de uma família de caçadores não é mesmo???"

E Chico Butina sentado no murinho que contornava a praça, na maior calma responde:

"É ué"

Então Chico, porque você não vai atrás desse bicho e mata ele, para acabar com essa tortura nas fazendas???

Ara... eu num matu bixu não sô...

Como assim? Que tipo de caçador é você que caça mas não mata???

Num mato não sô... Eu só prendo u bixu, quem quisé matá qui mati... eu num matu...

Explica isso direito minerim...

Oia, vo conta como qui eu armo a tucaia prus bixu, vou fazê mió, vo conta comu qui meu pai mi insino a intucaiá us bixu.

A muito tempo atrais, na fazenda du meu avo, tinha uma onça qui sempri ia lá intucaiá us bizerru.
Comu eu já tava na idadi de começa a intucaiá os bixu, meu pai dissi assim pra mim...
Oia fio, ocê játá viranu omi, i pro cê ganhá a ispingarda du pai i virá um caçado como seus irmão, u cê vai tê qui intucaiá essa mardita onça qui anda pelas bandas da fazenda du seu avo.
Só qui num vo ti dá ispingarda não, vo ti da otra coisa pro cê pega essa mardita...
Tá bão pai, me dê intão a arma uai...
Intão meu pai me deu um vidrim di pimenta baba du diabo, um apito e um rolo di corda.
Oiei pru meu pai i preguntei se ele tava doido... Comu qui eu ia intucaiá a mardita cum essas arma???
I meu pai disse:
Fio, quandu eu fiu intucaiá minha primera onça, seu avo me deu somenti u apitu... si vira uái, o cê só vai virá caçado si intucaiá a mardita cum essas arma qui ti dei...
Intão eu fui ate a fazenda do Seu Elizeu e fiquei só na ispreita, isperando a danada...
Pra modi ela não mi vê, subi na arvi onde os gadu sempre costumava durmi, e lá di cima via todos eles si acomodano. Di repenti oia quem vem bem di mancim... Num é qui era a mardita onça...
Ara... qui qui eu faço cum esse vidrim di pimenta? I esse apito? I esse rolo di corda?? I a mardita cuntinuava vindu... pronta pra dá u boti num bizerrim qui tava drumindu...
Ela tava bem dibaxu di mim, quase peganu u coitadim, foi nessi momentu qui tive a idéia...
Peguei u apito e assubiei bem forte... a mardita oio pra cima toda curiosa... Nessi momentu eu abri o vidrim di pimenta e joguei nos zoio dela...
Ara... mas a bicha pulava feito burro brabo, ceis pricisava vê...
Dici da arvi e lacei a bicha com o rolo di corda, amarrei as quatro pata da mardita com uma das ponta da corda, e a outra eu joguei por di cima do gaio da arvi e suspendi a mardita dexano ela di pendurada na arvi.
Fui até Seu Elizeu i disse que a danada tava lá na arvi di pindurada, e qui ele fizesse o qui dizessi cum ela, pois eu num mato bixu.
Seu Elizeu i us fio deli chegaram até a arvi, i a danada ainda tava la, piscandu us zoim qui ainda tava cheio di pimenta...
Seu Elizeu fico contenti dimais da conta sô... Inté mi pregunto si eu nunca tinha matado bixu memo... Eu disse qui na verdadi eu ja tinha matadu sim, uma veis eu matei um lião, mas eu era piqueno naquela épuca, tinha só 8 anu di idadi, ainda num sabia u qui tava fazenu...