O valor de um colar ou o preço da ilusão? (parte 3)

(...)

O que faltava para completar teria que arranjar no banco. Conversando com o gerente, o mesmo lhe perguntou: “- Em quanto tempo pretende me pagar?”, “- Em 10 anos”, “- Dez anos?” assustou-se o gerente, “- Sim”, “- Nesse caso, o juro será de 25% ao ano”, “Como 25%? Meus amigos me cobraram 5% ao ano!”, “-Desculpe, não sou seu amigo, sou gerente de banco”. Pierre não teve outra saída a não ser aceitar. Juntou os 36 mil francos, pagou o ourives, recolocou o colar na caixa de madeira e pediu à Mathilde que o entregasse à Jeanne. Chegando na mansão de Jeanne, Mathilde ouviu da rica madame que havia demorado muito pra entregar. Ela pediu à criada que guardasse o colar e sequer abriu a caixa para checar alguma coisa. Mathilde saiu da casa aliviada pela entrega e consciente de que ela e o marido teriam que labutar muito e por dez anos para liquidar toda aquela dívida. Assim o fizeram. Pierre passou a trabalhar três períodos. Mathilde dispensou a empregada e começou a exercer o ofício de doméstica em casas distantes da sua. Não queriam que descobrissem que era uma miserável. Os anos foram passando e o foco do casal se resumia em juntar dinheiro para acabar com a dívida. Mathilde chegou a pegar restos de comida de mendigos para preparar o jantar. Foi ficando encurvada de tanto limpar chão. Seus cabelos começaram a embranquecer. Pierre começou a ter crises de stress por causa do acúmulo de demanda no trabalho. O tempo foi passando e a dívida ficava cada vez menor. Quando faltava um dia para livrarem-se dela, Mathilde olhou para o espelho e viu o quanto estava velha. No jantar, com lágrimas nos olhos, disse ao marido: “- Já se passaram dez anos e vejo que não fizemos nada além de trabalhar como escravos, sequer tivemos filhos!”, “-Querida, não chore em cima dos envelopes, eles custam cinco centavos, além do mais, nossa dívida termina amanhã, aproveite a oportunidade e vá passear no parque”. No dia seguinte, ainda com os cabelos desgrenhados e aparência de psicótica (resultado da ideia fixa e única de acabar com a dívida e anos de labuta) Mathilde foi ao parque da cidade. Surpreendeu-se ao encontrar Jeanne e seu filhinho que não tinha mais de cinco anos. Cumprimentou a amiga que não a reconheceu: “-Desculpe, mas não a conheço.”, “-Eu sou Mathilde, sua amiga!”, “-Como? O que aconteceu com você? Por que se acabou tanto? E esses cabelos brancos?”, “- Fiquei trabalhando dez anos para pagar a dívida daquele colar que me emprestou!”, “- Imagine Mathilde, você me entregou o colar como o pegara!”, “- Não Jeanne, eu perdi o seu colar, eu e Pierre compramos outro. Trabalhamos dez anos ininterruptamente para pagar toda a dívida que adquirimos”. Jeanne olhou assustada e disse: “- Mas Mathilde, isso não era necessário, aquele colar era falso, não lhe custaria mais que 500 francos!”.

***

Isabel Cristina Rodrigues
Enviado por Isabel Cristina Rodrigues em 01/12/2010
Reeditado em 03/12/2010
Código do texto: T2646996