O Amigo

- Quer saber? O meu melhor amigo não é você! O meu melhor amigo é o Paulo. Reginaldo disse para o Kleber numa discussão acalorada, enquanto bebiam cerveja.

- Pra mim você é o pior cachorro que existe no mundo, isso sim.

Reginaldo era do tipo mulherengo. Mulher era o seu ponto fraco, não podia ver um rabo de saia que logo se enrabichava atrás. Por outra vez, Kleber não era assim. Gostava muito da própria mulher e se via forçado a não mentir para ele, por causa da aliança de ouro que havia posto no dedo há dez anos. Enquanto, Reginaldo se via separado, flertando, totalmente sem escrúpulos, todos os tipos de mulheres, porque não via mais a necessidade de se esconder de Lívia.

Quando Lívia, sua ex-mulher, rompeu o relacionamento de sete anos, Reginaldo sentiu muito a perda e a separação: emagreceu bastante, os olhos ficaram fundos, vermelhos por causa do pranto infinito e da tristeza que o acometeu. Dir-se-ia que ele mudaria, mas com o decorrer do tempo suas amantes foram afagando o coração. Aquele vazio solene que havia ficado fora sendo preenchido com o bocado de mulheres que ele se relacionava e o tempo foi se encarregando de amenizar aquela dor. Contudo, não poderia negar para si mesmo a mágoa que sentira.

Agora, estava de caso com a Pâmela, uma mulher casada que não sabia direito o que era o prazer nos braços de um homem. Ela ficara apaixonada logo no primeiro encontro e por ser do tipo de mulher afobada que quer as coisas para ontem, cobrava coisas incabíveis para o amante, que achava graça. O prazer tornara-se um vício já que não sentia nada com o próprio marido. Enquanto, Reginaldo ia no “passo do gato” e na ligeireza eficaz do tafulão para persuadir com presteza.

Certo dia Pâmela disse:

- Você é malandro. Me levou num motel de luxo, fez tudo direitinho na primeira vez para causar uma boa impressão. A otária aqui gostou, porque você sabia disso, né? Agora que eu tô aqui apaixonada você pode fazer o que quiser, porque sabe que a bobona vai correr atrás.

Reginaldo sorria com certo escrúpulo, dizendo que não era bem assim, que não era bem assado. Na verdade ele era astuto demais e não queria perder a boquinha de jeito nenhum.

- Mulher casada são as melhores mulheres do mundo, porque elas têm o rabo preso, compreende? Disse para Kleber, enquanto bebiam.

- Acontece que o que você tá fazendo já é demais, né?

- Meu, você só sabe reclamar comigo. Adora quando eu conto minhas aventuras, mas depois vem me julgar. Quer saber? Se você realmente fosse meu amigo me incentivaria a conquistar mais e mais o coração da Pâmela.

Naqueles instantes, Reginaldo ficou olhando o nada e voltou em seu passado: via-se desempregado, sem carinho, amor, companheira. Talvez fosse a cerveja que estivesse fazendo efeito. O certo é que ele estava pensando nas noites mal dormidas, na quantidade de vezes que ficara com fome por causa de Lívia, tentando provar o que sentia para as paredes e os cômodos vazios da própria casa. Em seguida, pensava na necessidade financeira que passara, enquanto via a própria filha querendo ir ao Mc Donald ou a um parque de diversão e a ex-mulher rancorosa cobrando mais que o Banco Bradesco, por causa de contas atrasadas e por causa da filha que pedia mais lazer. Via-se pranteando a perda, enquanto Lívia saía para se divertir no forró com as amigas, esfregando-se, bebendo, beijando e se relacionando com vários homens que a bancava, enquanto, ele não podia se divertir pela ausência de patrimônio.

Então, se exaltou com o álcool na mente:

- Quem me ajudou quando eu estava na merda?

O amigo ficou mudo, porque sabia que fora a Pâmela que o ajudara a sair daquela maldita deprê.

- Fala aí! Insistiu.

- Foi a Pâmela, droga. Admitiu.

Reginaldo um pouco mais composto:

- É por isso que o Paulo é meu melhor amigo.

- Ele é um corno isso sim!

Inconformado com Kleber, Reginaldo bateu na mesa do bar com fúria explosiva:

- Pois eu vou te provar, quer ver?

Pegou o telefone, ligou para o Paulo e colocou no viva-voz:

- Alô. Reginaldo disse com a voz que denunciava a embriaguez.

- Alô. Pâmela respondeu do outro lado da linha.

- Olá paixão. Tudo bom? Foi meigo.

- Não fala assim – disse baixinho – meu marido tá aqui.

- Chama ele pra mim, por favor.

- O que você quer falar com ele? Disse com medo, porque achava que Reginaldo ia bater com a língua nos dentes, por causa da embriaguez.

Paulo curioso:

- Quem é amor?

- É o Reginaldo. Disse com medo, mas tentando dissimular ao máximo. – Quer falar com você.

- Alô. Paulo disse quando pegou o telefone da mulher.

Reginaldo tentou ser o mais persuasivo possível, enquanto Kleber ouvia a conversa:

- Eu tenho que lhe dizer uma coisa.

- Fala. Nisto o tom da voz de Paulo denunciava a curiosidade

- Você é o meu melhor. Sabe por quê? Porque na hora que eu mais precisei foi você que apareceu. Eu estava com minha auto-estima lá embaixo, você me arrumou um emprego bom pra caramba, me deu seu ombro, apresentou umas amigas. Eu lhe considero pra cacete. Fique sabendo disso.

Depois que desligou o telefone, Paulo disse a mulher o ocorrido com um sorriso enorme no rosto, porque gostava de ajudar as pessoas, enquanto Reginaldo dizia para Kleber:

- Eu não admito que você fale do Paulo, ele é corno, mas é meu amigo.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 10/02/2011
Código do texto: T2782914
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