Socorrinho era uma menina linda. Dezessete anos,
 Morena clara olhos negros. , cabelos longos e lisinhos até a cintura,
Corpo perfeito.
Filha única criada pelos pais e a avó. Era o xodó da casa.
Moravam em Tarumã uma comunidade ribeirinha, perto de Manaus.
O vilarejo não contava com mais de 300 habitantes incluindo as crianças,
Que viviam ali. “Criadas como batata”, soltas e sem higiene.
Uma igreja católica, uma evangélica, a escolinha, posto de saúde ...
O povo aguardava com ansiedade a festa da Padroeira, Nossa Senhora do Socorro.
Ia ser ali na escola.
_Socorrinho...Oia o teu vestido...num tá lindo?
-Ta sim mãe...Brigada.
_Gradeça a vó, ela que jutou dinheiro pra compra o tecido, os aviamento.
Terça fera vamo pra Manaus compra sapato.
_Ai mãe, num vejo a hora...
Mas Socorrinho queria mesmo era rever Raimundo, caboclinho da vila, mas que
Trabalhava no porto. Tinha uma voadeira, transportava as pessoas que moravam
Nas comunidades vizinhas.
-Eta moço bonito! Esse eu queria pra marido!
Os pensamentos de Socorro divagavam.
_Se o pai soubesse que eu até já prosei com Mundinho...Ele num havia de gostá,
O povo se quexa que ele ingana as moça, que ele num vale nada...
Mas que é bonito é, ai ai!
-Socorro já se apronto?
_Juareis, num é a voadera do Mundinho vindo ali na beira?
Se a gente se apressá vai cum ele.
_Anda Socorro, simbora menina. 
_ A vó num vai?
_Vai não.. diz que fica cuidando da casa.
_Então...Bença vó!
_Tenha  a Bença de Deus minha fia.
_Bença mãe! Fique cum Deus, que cum Ele nois vai também.
_Deus te abençoe Maria, amém!
Seu Juarez empolgado com a ida pra Manaus, fazia as contas mentalmente
De quanto ia gastar desta vez, com o “rancho” do mês.
Nem percebeu os olhares furtivos
Que os jovens trocavam.
A travessia foi tranqüila.
Na hora do desembarque, disfarçadamente, entre dentes,
Mundinho falou:
_Te vejo na festa!
Com um sorriso ligeiro, Socorrinho consentiu.
Na volta, Socorrinho torcia pra se encontrar de novo com Mundinho,
Mas até a festa não o viu mais.
-A festa estava linda.
Nas barraquinhas, bolo de tapioca, de macaxeira, mungunzá, pé de moleque.
Cerveja pros adultos, guaraná pras crianças.
Sem faltar o som.
No centro da comunidade, no salão improvisado o forró corria solto.
_E o Mundinho que não vem!!!!
_Socorrinho...”correio elegante” pra Socorrinho!
_Sorte que o pai num tá perto, a mãe e a vó num sabe lê!
_De quem é Socorro? Oia Oia!
_Besteira mãe é do primo Chiquinho!
No vilarejo quase todos eram parentes.
_Onde oce vai Socorro, teu pai falô procê, num saí das minhas vista.
È lua cheia e o boto pode andar por aí. Num vá pras banda do rio.
Já cunversamo em casa!
_Pois é pra lá mermo que o bilhete do Mundinho me chama, perdoa mãe mais eu num vô obedece desta veis.
Pensou Socorrinho.
Ficou por ali algum tempo...
_Mãe, vou procurá prima Maria... Ela tá lá do outro lado, venho logo!
_Vai fia se divirta, mais oia oia...
Com o coração aos saltos, Socorrinho avistou, Mundinho,
Sentado na pedra a beira dàgua.
_Você demoro.
_Tive que engambelá a mãe.
_Vem cá me de um bejo!.
_Vai cum carma Mundinho sô moça virge, Ce num vai querê bulí comigo!
_Pois vc me deixa louco. Nois casa depois eu peço você pra seus pais todo certinho.
Socorrinho nem se deu conta do que veio depois.
Sentia o rosto queimando, sua cabeça doía. Seu vestido amaçado,
_ cadê meu sapato? Há tá aqui... Mundinho?
_Mais num é que você era virgem mesmo?
Diacho!
_Nois vai casá né Mundinho...Tô desonrada, meu pai te mata quando soube.
_Mais ele num vai sabê nunca senão eu é que te mato.
Saia daqui vai vai, e bico calado.
O mundo de Socorrinho desmoronou!
_Deus do céu e agora?
_Socorrinho!!!! Cadê ocê?
_Tô aqui Maria.
_A tia disse que ocê tava me procurando...Mais que aconteceu?
Tudo despentiada...
_Maria, num conte pra ninguém...
_Foi o Mundinho num foi? Cachorro!
_Foi não...
_Foi sim eu sei, aquele cachorro, disse  que ia casá comigo e me trai cum você e
 com a Deusita que eu ví, ela nega, mais eu segui Mundinho e vi.!
No fundo nois tem medo dele, quem sabe quantas ele já enganô
Mai você num tem curpa de nada, vem cá ! lave a cara., as parte dói?
_Dói sim, mais meu coração dói mais.
_Fique assim não vamo vorta pra festa. Passe meu baton.
Mas como tudo passa...
_Socorrinho minha fia, to achano você tão calada, triste, por que fia?
_Nada não mãe, triste eu ando mesmo, mãe, nois precisa cunversá
_Cê tá me assustano fia..vem cá vamo pro quarto.
_Mãe, acho que to embuchada.
_Deus de misericórdia minha fia...Meu Deus!!!
Quem foi o tar?  Fale quem sabe ocêis casa e dá tudo certo?
_Casa não mãe!
_Mai fia, então ocê  sabe que se num casa ele morre, teu pai mata ele!
_Tia!!! Oi tia A sra tá aí? To entrando!
_To indo... (baixinho) Depois nóis cunversa fia!
_Bença tia... Cade Socorrinho?
_A benção de Deus ... tá lá no quarto, vá lá.
_Prima, vim desabafá, num sei oque fazê!.
_Calma prima que foi?
_To embuchada prima, do Mundinho! Falei cum ele. Ele disse que se alguém subé, ele mata eu.
Que ele vai imbora pra morá em Manaus e nunca mais vai vortá aqui, aquele cachorro!
 _Eu to também prima...Que nóis faiz?
Tem umas cinco moças tudo embuchada mais ou menos no tempo da festa. Sera???
_Nois tem que se reuni. Pra tomá um rumo.
Intão vamos cunversá  cum elas, uma é a Deusita, eu sei que é do Mundinho eu fiz ela contá.
_E as outras?
_Aí já num sei.
Mai vamos cunversá com Deusita.
_Imbora, vo avisá a mãe.
_Oi Deuzuita!!!!
_Oi...
_Saia aqui fora, vamo cunversá!
_Que vocês querem de mim?
_Carma.. vem ...
_Intão, Ocê, eu mais Socorrinho tamo  de bucho e num podemo falá quem é o pai.
Certo?
_Certo, eu mesmo num falei pra ninguém.
_Eu tive uma idéia aqui e agora! Nois vai fala que é do Boto.
Socorrinho e Deuzita se olharam...
_Num é que é uma boa idéia?
_É mermo!!!
_Se é!!!!
Alguns meses depois, começaram a nascer os filhos do Boto.
Seis!!!!!!