Assuntos de Ocasião

Assuntos de Ocasião

A porta da igreja estava lotada. Seis horas da tarde. Procissão do Senhor_ Morto . Sexta-feira da Paixão . A multidão que se formava atrás do andor entoava cânticos sacros próprios para aquele dia: Os padres orientavam a formação das alas e lentamente o povo ia se encaixando em duas filas que circulavam por várias ruas e avenidas da cidade. Católico nenhum deixava de participar dessa cerimônia. O sermão pregado na chegada da imagem de Nossa Senhora das Dores, atrás do seu Filho morto, fazia muitos fieis se emocionare..

Durante a trajetória, o terço era rezado. Percebia-se ali, momento de fervor e contrição. Mesmo assim, ainda se ouvia algum bate papo como esse:

__ Oi, cumade, espera aí! – Olhou para trás, marcou a conta do rosário e continuou:

_ Ocê recebeu as cuberta que teci e mandei pro cê?

Amontoando o véu para debaixo do queixo e afastando a vela para um lado, a senhora de trás respondeu: __ Recebi sim, cumade. Sobrou linha, não?

__ Sobrou não! Veja que foi a continha! Ocê ficou satisfeita cum elas?

__ Fiquei! Ficaro muito bunita.. O repasso que eu pidi, foi laranja partida e ocê teceu o repasso estrela da lagoa. Ficô mais bunita ainda! Só, cumade, num quero qui ocê repara, não. Mais elas ficaro cum defeito...

__ Defeito? Mas que defeito? Ocê pode falá!...

__ Elas ficaro curta, cumade. Óia, quando a gente vai cubri, vira aquela confusão: Eu puxo, o Chico puxa, eu puxo, o Chico puxa... E nóis acaba amanheceno com a bunda de fora!...

Águeda Mendes da Silva

(Desculpe-me. Não consegui formatar direito o texto)

Águeda Mendes da Silva
Enviado por Águeda Mendes da Silva em 08/03/2011
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