Às vezes me dá uma saudade...

Mesmo tendo os filhos que sonhava, mesmo tendo a esposa que sonhava, mesmo trabalhando na agricultura que era meu sonho de consumo, às vezes me dá uma saudade...

Meu pai na janela da velha casa de roça me “ensinando” ensinar meu cachorro Peri a ter educação; minha mãe na cozinha labutando com o fogão a lenha para nos dar o que comer. Nosso controle remoto era a porteira da divisa que quando batia, era sinal de alguma novidade na mesmice de nossa bucólica vida. Mas hoje...

Tenho um filho de nove anos de idade que assiste televisão, joga vídeo game e mexe no computador ao mesmo tempo. Poderia ser considerado um pai relapso, deveria dar a ele uma vara de pescar! Leigo engano. Esse é o mundo desses moleques de hoje. Se desse a ele uma botina, estaria o entregando ao mal estar social; talvez o fadando a uma vida de revoltas futuras.

Meu pai me deu a primeira botina quando tinha lá meus sete anos de idade; coisa chata de calçar porque meus pés estavam acostumados à liberdade... Minha mãe me queria doutor para ver pelo menos seus netos longe da lamparina...

Hoje, não virei doutor, mas aprendi o conhecimento fazendo com que meus filhos tenham o tal de controle remoto...

A porteira da divisa se foi com o tempo e foi trocada por um mata-burros, o respeito mútuo entre parceiros foi trocado pela CLT, os ladrões espreitam, esperando um brecha qualquer...

Mas me dá uma saudade! Dormíamos com as janelas abertas, se tivesse algum intruso era um lobo querendo comer alguma galinha que o Peri dava conta...

Meu Deus, talvez saudosismo seja uma coisa fora de moda nessa loucura capitalista, mas posso imaginar meu pai com um controle na mão; talvez ficasse sem jeito e chamasse o Peri. Mas meu pai se foi como também meu cachorro Peri. Sobraram meus filhos e um tanto de controle remoto...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 20/03/2011
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