VACINA DE GRAÇA

Antenor Verdiano de Oliveira, também conhecido como “Boa Boca”, era um bem sucedido comprador de café na cidade de Boa Vista, no norte do Espírito Santo.

Verdiano, ou Boa Boca, tinha facilidade de conquistar pessoas, pois além de muito simpático, era solidário, amigo, sentia prazer em ajudar àqueles que dele necessitassem. Mas Verdiano tinha um lado que, se era motivo de encantamento para uns, desagradava a muitos: não podia ver um rabo-de-saia.

Segundo diziam os amigos mais íntimos, Verdiano comia tudo que encontrava pela frente. Outros diziam que ele comia até caco de vidro. Fazia sexo por compulsão. Qualidade não fazia parte da sua exigência. Quantidade, sim.

A fama de Verdiano, que lhe rendeu o apelido de Boa Boca, já transcendia os limites do município. Em razão disso, muitos dos seus amigos entendiam que ele corria perigo de vida, pois eram muitos os casos de desajustes conjugais decorrentes das conquistas desenfreadas do “Don Juan”.

Então, uns amigos resolveram reunir-se com Verdiano e com ele terem uma conversa franca, no sentido de que ele se mudasse para a capital do estado. Inteligentes, os amigos usaram dois argumentos decisivos: o primeiro,era o de risco de vida, pois ele amava viver livremente, como os pássaros; o segundo, no sentido de que ele se mudasse para a capital do estado, onde o número de belas mulheres (embora beleza não fosse a atração maior para ele) era assustadoramente maior do que em Boa Vista, principalmente nas praias de Vitória e adjacências.

A partir dessa conversa, Boa Boca passou a refletir sobre o que ouviu e culminou por entender que as ponderações dos seus amigos tinham relevância.

Veio a Vitória, comprou um amplo apartamento, e nele passou a residir com a família, composta de esposa e dois filhos já em idade escolar.

Certo dia, Boa Boca saiu cedo de casa com a intenção de comprar alguns móveis para compor o seu apartamento. Ao passar numa determinada Rua viu uma fila enorme de pessoas, com preponderância para pessoas do sexo masculino. Numa parede do prédio viu uma faixa que dizia: “Vacina de Graça. Atendimento das 8 às 18 horas, de segunda a sexta-feira”.

Boa Boca esqueceu da finalidade que o trouxera até ali, que era a compra de móveis e outros utensílios para o seu apartamento, e entrou no final da fila, que era bastante longa.

Cerca de duas horas depois, um funcionário se aproximou dele e disse delicadamente:

-- Senhor, queira me seguir.

O funcionário abriu uma porta e pediu que ele entrasse e se sentasse numa cadeira lá existente.

Em dado momento uma porta se abre e surge a figura de uma mulata vestida de branco, com um sorriso encantador, que mostrava os alvíssimos dentes perfeitos.

-- O senhor está preparado? – perguntou-lhe a mulata.

-- Sim, estou – respondeu Boa Boca – quase explodindo de felicidade.

Na verdade, Boa Boca não acreditava no que estava vendo e chegou a beliscar num dos braços para ter certeza de que era ele mesmo. Mas alegria de pobre dura pouco. Em dado momento, a enfermeira -- aquele monumento de mulher tipo estraga lar -- se dirige em direção ao “Don Joan” com uma baita seringa numa das mãos e uma mecha de algodão embebida em álcool na outra.

Boa Boca, espantado, se levanta e diz para a enfermeira:

-- Acho que está havendo um engano, pois eu não preciso de estimulante.

-- Mas, senhor, isto aqui não é um estimulante. Trata-se de uma vacina para imunizá-lo da influenza (gripe).

Boa Boca nem esperou para refletir. Saiu em disparada, passando pela porta como um bólido e ganhou a liberdade da rua, só parando quando chegou à sua nova residência.

Agora sim, deitado, passou a refletir em que se baseava o seu equívoco e não encontrava explicação. Tomar injeção, Deus me livre!

Resolveu voltar ao local para tentar uma explicação e a encontrou: é que ao ler na faixa existente na parede do prédio “VACINA DE GRAÇA...”, ele leu o “C” de vacina como se fosse “G”.

Eis aí o equívoco do tarado

levy pereira de menezes
Enviado por levy pereira de menezes em 10/11/2006
Código do texto: T287529