Reminiscências 21

Tempos de Colheita

Uma das melhores coisas da vida é colher os frutos daquilo que se planta, não é mesmo?

Desde que sejam sementes do bem, evidentemente.

Só quem viveu no campo, cultivou-o e sobreviveu com os resultados de seu trabalho, sabe o quanto árduo e gratificante é isso.

Pois bem, meus pais viveram a maior parte de suas vidas no campo e nós, proporcionalmente de acordo com a idade de cada um.

Penso que vivi uma das melhores fases da minha vida, ou seja, até aos 13 anos, ocasião em que mudamos pra chamada cidade grande.

Mas o que eu quero registrar mesmo aqui é a alegria dos nossos tempos de colheita de frutas na região onde morávamos.

A diversidade era enorme. Plantava-se de quase tudo: Marmelos, Pêras, Ameixas, Pêssegos, Laranjas, Abacates, Caquis, Bananas, Maçãs, Castanhas, Pinhão, Jabuticabas, Fruta do Conde (Um único pé que era o xodó de meu pai), etc.

Ainda podíamos contar com as chamadas frutas silvestres, tais como: Goiabas, Araçás, Gabirobas, Maracujás, Ingás, Amoras, Araticum e tantos outros, que não me ocorre os nomes. Daí, tem-se uma idéia do quanto éramos felizes nestas ocasiões!

No período chamado safra era aquele em que meu pai, meus irmãos e alguns camaradas (José Armando e Lázaro são os nomes que ainda recordo) efetuavam a colheita para venda de frutas nas fábricas (Cica, Colombo, Mantiqueira, e outras) em Delfim Moreira. Estes recursos serviriam de sustento da família, nos meses que sucediam. O Marmelo era o carro chefe, seguido das Peras, Pêssegos e Ameixas.

As crianças não ficavam fora da colheita, e nem queríamos ficar, evidentemente.

Lembro-me de quando retornávamos de um dia de trabalho, trazendo enormes frutas nos embornais, entre elas os marmelos, que seriam assados no forno a lenha.

A “técnica” consistia no seguinte: Tirava-se o seu miolo, enchia-os de açúcar cristal e

colocava-se no forno bem quente. Em meia hora estava assado com um delicioso melaço dentro com sabor da fruta.

Uma deliciosa iguaria de criação própria que até hoje fico com água na boca só de recordar.

Bem, os doces que minha mãe fazia nos finais de ano, eram um capítulo a parte. Havia uma variedade incrível: Figos em calda, Cidra ralada com cravo, Abóbora com cal (pra cristalizar), Marmelo com queijo (A famosa sopa de marmelo, outra iguaria inventada por minha mãe), de goiaba e tantos outros. É impossível esquecer!

Ao término de cada temporada se fazia necessário os cuidados para com a toda plantação. Dias de trabalho árduo, principalmente para os mais velhos.

Era chegada hora de roçar, carpir, podar, corrigir a terra, extrair pragas, arar e replantar.

Tarefas essas que se fazia com sacrifícios, renúncias e muito suor, mas também com muita disposição, alegria e esperança de que a cada safra teríamos a devida recompensa. E que recompensa!

Em um de seus versos, a música Disco Voador, do compositor Palmeira, diz assim:

“O nosso mundo é um espelho,

Que reflete sempre a realidade,

Quem planta vinha colhe uva

E quem planta chuva, colhe tempestade.”

Agradeço muito a Deus por ter tido a oportunidade de aprender a plantar muitas vinhas, nesta vida. Ensinamentos esses que procuro preservar e transmitir aos meus filhos ainda nos dias de hoje.