AVENTURAS NA FAZENDA
                  SANTO ANTONIO.

 

 

 

A princípio, fiquei surpresa:

- Fazendeiro do ar? Quem foi o inventor dessa pérola? Ah... só podia ser Ele! Será que vou saber discorrer sobre o tema? Depois de pensar um cadinho (é bem a Milla, isso!) retrocedi: se Drummond, escreveu sobre suas raízes mineiras, eu também tenho muito a relembrar aqui.

- Ah! Taí um tema ótimo pra falar de uma pessoa que fez parte de toda a minha infância, sobre o qual jamais escrevi – mesmo porque eu fujo um pouco desse assunto – infância e adolescência. 
- Por que será?

 

Tio Izaltino - irmão mais novo de minha mãe. Fazendeiro, desde sempre,em todas as férias escolares, lá vinha ele em seu cavalo rajado, imenso (eu era bem franzina) buscar-me pra passar as férias na fazenda Santo Antonio, de sua propriedade.
- Eu já ficava de malas prontas.

 

Lá, em companhia de seus oito filhos (que depois aumentaram para doze),seguíamos a rotina deliciosa de fazenda. Eu e Sílvio, o filho mais velho da manada, uns dois anos mais que eu (que foi quem me deu o primeiro beijo (é sempre um primo,não?), 
acordávamos com o cantar do galo (ele nos despertava, de verdade), para acompanhar o manejo do rebanho no curral, a ordenha (ainda manual) e tomar aquele leite “escumado”, quente, como se tivesse ido ao fogão, que saía diretamente das tetas das vacas para nossas canecas.
- Eu adorava aquilo!

 

Os dias eram repletos de diversão (e obrigação), pois minha tia nos delegava tarefas diárias, como arrumar nossos quartos, organizar o paiol, vigiar o monjolo, buscar, na despensa, que ficava em um cômodo fora da casa principal, os queijos, bem arrumados em uma prateleira para que curassem (minha tia Augusta os fazia, era mestre nessa arte), para que ela preparasse a merenda da tarde. Bolos, pães de queijo, broa de milho, era uma festa imensa, todas as tardes.
- Muita gente para comer, entre filhos e peões.

 

Por volta de cinco horas da tarde, eu montava na garupa do cavalo rajado de tio Izaltino, meu primo Sílvio em outro e, em companhia de dois ou três peões, cavalgávamos em direção aos pastos.
- Era hora de conduzir o gado de volta ao curral.

 

Os dias na fazenda de tio Izaltino, se dividiam entre os banhos gelados nos rios e córregos que passavam por suas terras, fugir de touro bravo no pasto, subir em árvores para chupar as frutas no pé, até a barriga quase estourar, brincar de contar estrelas nas noites enluaradas, sentados na varanda da casa principal.
- O luar da fazenda era mais belo, sempre!

 

De todas essas aventuras na fazenda, o que eu mais apreciava, era ouvir as histórias (a maioria, inventada), que meu tio Izaltino, um legítimo fazendeiro do ar, pacientemente, nos contava nos finais de tarde, as quais eu ouvia com tal encantamento, que me lembro, até hoje, de algumas delas. Mas isso é assunto para outras aventuras que contarei aqui, um dia.
-Tenho muitas histórias para contar...

 

(Milla Pereira)

 

 

 

N.A.

 

Leite escumado: É o leite recém tirado da vaca, pois a vaca não dá leite, a gente é que o tira dela.

 

Monjolo: Monjolo é uma máquina tradicional movida a água, destinada ao beneficiamento do arroz, muito utilizado nas fazendas, antigamente.


 

Este texto faz parte do Exercício Criativo

- FAZENDEIRO DO AR -

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