VIDA DE HOMEM, VIDA DE SANTO

(BASEADO NA BIOGRAFIA DO PADRE ALBERTO HURTADO-

CHILE- 1901-1952) Coletânea de textos, cartas, escritos e livros disponíveis pela Pontifícia Universidade Católica do Chile

... Naquela fria madrugada, ele se sentou do lado de fora, esperando que as portas do Santuário se abrissem. Para chegar ali, foram três horas dirigindo com as mãos trepidantes ao volante, mas em seus pensamentos, suas mãos nunca deixaram de estarem firmes e unidas para uma prece. Sentia a dor das entranhas retorcidas, dor de telespectador da crucificação: quisera que seus fora aqueles espinhos incrustados no cérebro.

Necessitava que o padre Hurtado ouvisse suas súplicas e intermediasse com Deus. Aquele sacerdote JÁ CONHECIA os mistérios do funcionamento da santa agenda: passível de mudanças, aberta a novas perspectivas, sujeita aos milagres.

Haveria tempo de suplicar ao religioso para que Deus apagasse um nome clinicamente escrito na porta de entrada da recepção celestial?

Pela manhã, com o corpo cansado e com a alma dilacerada, sentiu um grande alívio quando o porteiro do Santuário finalmente o deixou entrar. Já andando pelos corredores do recinto, experimentava a presença divina através do som quase imperceptível do canto gregoriano.

Desejava aliviar sua pena com aquele padre, único sacerdote que seria capaz de compreendê-lo e acolhê-lo como um homem, que neste momento, se sentia filho necessitando de ser carregado no colo.

Entrando na capela, dirigiu-se diretamente a tumba e desvanecendo-se diante do sarcófago de pedra, começou a rezar ao padre Hurtado, falecido fazia mais de 40 anos. Rezava o Pai-Nosso entre cortado por lágrimas. Era o reflexo do sofrimento de um pai que estava com uma filha de 16 anos internada numa clínica, cuja condição médica apresentava-se irreversível. A medicina, com todos os recursos financeiros e tecnológicos disponíveis, nada podia fazer diante de um gravíssimo problema cerebral a causa de um acidente automobilístico.

Com uma equipe médica que desenganou aquela filha, decidiu então, viajar até aquela cidade para realizar um pedido ao padre. Valia-se da fé como alimento para saciar sua fome de esperança. Recurso indiscutível, inquestionável, validado e amparado pelas sagradas leis do amor paterno. (...)

[Órfão de pai aos 4 anos, foi necessário a caridade e a compaixão de familiares para que Alberto, sua mãe e seu irmão pudessem receber um teto e alimento. A mãe, primeiro e mais importante exemplo de solidariedade em sua vida, ensinou-lhe: “Las manos juntas para orar, pero abiertas para dar".

Como bolsista num colégio de jesuítas, aos 8 anos aquele garoto já demonstrava uma inteligência que se sobressaía. Aos 15 anos, recebendo um prêmio a Apologética, manifestou seu desejo de ser jesuíta e fazer parte da Companhia de Jesus. Mas este pedido não foi aceito. Apesar de toda vocação religiosa, latente e evidente, os diretores lhe orientaram que ele precisava estudar uma carreira universitária para ajudar nas finanças da família.

Aos 23 anos, Alberto Hurtado se titulava como advogado e eis que algo inesperado acorreu neste mesmo ano. Sua mãe recebeu uma importante indenização, e ele, com diploma nas mãos e um grande sorriso no rosto, finalmente pôde seguir o caminho que tanta almejava.

Aquele que um dia fora um menino pobre, transformou-se em um homem cujas oportunidades religiosas lhe possibilitaram uma ampliação em seus contatos culturais e idiomáticos. Durante os 11 anos que esteve fora do Chile, Alberto estudou filosofia, licenciou-se em Teologia e obteve brilhantemente um Doutorado em Ciências Pedagógicas em Bélgica. Aos 32 anos foi ordenado a sacerdote:

“Es más de temer en un sacerdote la ignorancia que el pecado …La ciencia y la piedad son los ojos espirituales del sacerdote. El que carece de uno es tuerto; el que de ambos, ciego. Un sacerdote culto de nuestros días debe conocer, además de las obras clásicas católicas, la literatura de su nación, los grandes pensadores contemporáneos” (P.Alberto Hurtado, 1949).

De volta ao Chile, em 1936, Padre Hurtado, encontrou-se com um país com muitos problemas sociais. Tornou-se então, como professor universitário e membro da Igreja, um líder espiritual carismático, capaz de atrair a juventude a ouvir sua mensagem cristã, ao mesmo tempo, colaborando ativamente com a classe trabalhadora para que lutassem pela justiça social.

“… Hay muchos que están dispuestos a hacer la caridad, pero no se resignan a cumplir con la justicia; están dispuestos a dar limosnas, pero no a pagar el salario justo. La verdadera caridad comienza donde termina la justicia. Caridad sin justicia no salvará los abismos sociales. La injusticia causa enormemente más males de los que puede reparar la caridad…” (P. Alberto Hurtado, 1952)

Em 1944, Padre Hurtado construiu o que seria o maior legado até os dias de hoje neste país: uma casa de acolhida chamada Hogar de Cristo. Seu objetivo era atender a anciãos, adultos e crianças em risco social brindando-lhes ferramentas como a educação e capacitação profissional para a superação da pobreza e reinserção social.

“La Iglesia misionera no debe ser sólo la que bautiza y enseña catecismo, sino la que atiende a todas las necesidades de sus fieles y de los que pueden llegar a serlo: Desde la comida, ropa, medicinas, caminos. Es la Madre; madre visible” (P. Alberto Hurtado, 1944).

Aos 51 anos, afetado por um câncer, padre Hurtado falece consternando todo um país.

«¡Cómo no voy a estar contento! ¡Cómo no estar agradecido con Dios! En lugar de una muerte violenta me manda una larga enfermedad para que pueda prepararme; no me da dolores; me da el gusto de ver a tantos amigos, de verlos a todos. …Teresa de Jesús dijo: Vivo sin vivir en mí/ y tan alta vida espero/ que muero porque no muero. Y esta mujer extraordinaria que tan dulces poesías escribía pensando en su muerte no tuvo sino esta palabra cuando le anunciaron su próximo fin: Ya era tiempo Señor, ya era tiempo de verte».

(p.Alberto Hurtado, 1952)]

(...) Num Hospital, uma jovem de 16 anos se despertou depois de dozes dias em estado de coma, sem apresentar nenhum tipo de seqüelas apesar de um grave acidente. Sob os olhos perplexos de médicos, enfermeiras e familiares, a moça, ao perceber que estava num recinto hospitalar, lhes perguntou:

- ¿Que me sucedió? ¿Por qué estoy aquí?...

NOTA: Este conto está inspirado numa situação médica ocorrida em 1996. Como não se encontrou explicações científicas, este caso foi enviado ao Vaticano. Depois de muitos anos de investigação, o caso foi aceito como o SEGUNDO milagre atribuído a figura do Padre Hurtado. No ano de 2005, este sacerdote foi canonizado, passando então a ser SAN ALBERTO HURTADO. Convido-o para que o conheça visitando por YOUTUBE o video:

SENTIDO DEL POBRE (PADRE HURTADO)BITACORACHILE.COM

“Un santo es imposible si no es un hombre; no digo un genio, pero un hombre completo dentro de sus propias dimensiones. Hay tan pocos hombres completos. Los profesores nos preocupamos tan poco de formarlos; y pocos toman en serio el llegar a serlo”.

PADRE ALBERTO HURTADO, 1947

Dedico este texto como uma oração a SERGIO SILVA FARIAS.