SABEDORIA POPULAR
 
A sabedoria popular ensina de uma forma incrível e existem pessoas do povo que têm a bendita percepção de traduzir em poucas palavras o que muitos não conseguem descrever num tratado filosófico. A sociedade moderna perdeu o sentimento de cultura, confundem a cultura com escolaridade.
Sempre gostei muito de conversar, de um bate-papo sem compromisso, ou como muitos dizem, jogar conversa fora.
Ocorre que convivi durante alguns tempos com um grupo de jovens universitários e lembro-me muito bem que não conseguia manter um bom diálogo, uma conversa mais longa com aqueles jovens que tinham muito boa escolaridade, alguns mesmo já usando seus anéis de doutores, sentia que faltava alguma coisa, mas o que seria? Talvez fosse uma questão de defasagem cronológica, porque entre nós havia uma diferença de vinte anos ou mais. Na realidade todos eles estavam na faixa etária dos meus filhos que também eram universitários. Com meus filhos eu mantinha um bom nível de diálogo, mas entre nós havia um componente diferente que estreitava nossas relações, o amor paternal e filial que nos unia.
Lembro-me muito bem das visitas que fazia à minha terra natal, Pirapetinga, situada na Zona da Mata de Minas Gerais. Lá existiam pessoas muito simples e de baixa escolaridade mas que nos prendiam com suas conversas, muito interessantes sobre os mais diversos e variados assuntos.
Lembro-me especificamente de uma pessoa muito marcante, o Zinho, cuja escolaridade era o primário completo. Um homem inteligente cuja atividade era comprar, invernar e vender bois.
Conversávamos durante horas, ele contava estórias vividas por ele próprio em suas viagens e andanças pelo interior, pelas passagens por fazendas e suas conversas com fazendeiros e outras pessoas simples do interior.
Eu fazia minhas comparações e perguntava a mim mesmo, que fascínio exercia aquela pessoa tão simples e que outras com grande escolaridade não conseguiam fazê-lo?
Numa das minhas visita ao Zinho, Também lá estava um nosso conterrâneo que há muito estava distante da terra natal. O Fulano perguntava sobre todos os contemporâneos.
  • O Zezinho do Rio?
    Zezinho se mudou, está em Pádua, não vejo há mais de oito anos...
E assim perguntou sobre muita gente de sua época, uns haviam se mudado, outros ainda lá estavam e outros, naturalmente morrido. Lá pelas tantas o Fulano perguntou sobre um velhinho que morava na fazenda vizinha, que estava bem vivo e esperto, mas que Zinho lhe disse que o velhinho havia morrido e que depois da sua morte as coisas não corriam bem na fazenda e que muitas pessoas diziam vê-lo andando por lá... Não se falou mais nisso novamente e mais tarde fomos visitar os vizinhos. Quando estávamos lanchando, o visitante olhou espantado para o Zinho e disse em alto tom
    • Olha lá, Zinho, eu estou vendo o Sr. Manuel...
O Zinho impassível, lhe pergunta:
    • Onde?
      Ali junto ao fogão...
      Ué, não estou vendo nada...
      Zinho, ele vem para cá...
Os outros percebendo a situação, interviram.
  • - Oi, seu Manuel, vem aqui falar com o Fulano e todos caíram em gargalhada
Noutra feita, lá apareceu outra pessoa da região que tendo se mudado para São Paulo, parecia estar bem de vida, mas para se mostrar ele dizia para todos o que havia amealhado, apartamentos de luxo, casa em Guarujá, carro do ano, etc.
Aquela gabolice já passara dos limites e a conversa do visitante se tornara muito irritante..
Depois que o visitante gabola se foi, o
Zinho aliviado, desabafou: Muito peido é sinal de pouca bosta!