A TRAGÉDIA DE TEIXERINHA (1949)

  A TRAGÉDIA DE TEIXERINHA

Lá perto de Olhos Dágua existe uma cruz que até nos lembra de Castro Alves: "Caminheiro que passa pela estrada, seguindo o rumo do sertão". Acho que é assim mesmo, e não for desculpem-me porque já faz 50 anos que li este poema. O meu carro deu pane próximo dela. Aguardo a espera de socorro, aproximaram dois cavaleiros montados em cavalos em pelo, desceram deles cumprimentando de maneira bem roceira:

- Dia... Cumprimento habitual daquelas bandas.

- Dia... Respondi da mesma forma... Continuaram:

- Cê vei rezar-se pro Teixeirinha?

- Ah bão, pensei que fosse... Montaram no cavalo e sumiram na curva logo na frente... Algumas horas depois chega o socorro. Sr. Jorge, mecânico lá da cidadela, diga-se o único... Rodeou a velha Kombi, desculpem-me ali em cima falei carro, deu outra volta, levantou a porta do motor e começa a fussar, dois minutos depois, disse-me:

- Dê partida, entrei no veículo e o fiz. O carro pegou maravilha:

- Vamos chegar lá em Olho que lá eu tenho mais recurso pra examinar o que aconteceu...quero ver se foi mesmo defeito ou se foi "igualim" os outros carros...no que eu indaguei:

- "Igualim" o que ?

- Os outros carros, isso sempre acontece próximo a cruz do Teixeirinha.

Poucos momentos depois deu o diagnóstica:

- Tem defeito, paga só o socorro. Foi mesmo a maldição da cruz. Fiquei deveras curioso:

- Maldição de que?

- Sabe não seu moço? A muito tempo atrás, mas faz muito tempo mesmo, na Fazenda Santo Antonio existia um fazendeiro muito rico que se enviuvara. Ele não era muito velho e se enamorara de Tatiana, filha de Ozires, o capataz da mesma fazenda... Então num belo dia ele cheio de coragem, também de "branquinha" no chifre, vai até o barracão de Ozires e pede a mão de sua filha em casamento... O que foi aceito...

A festa prometia ser de primeira, churrascada para toda a vizinhança com mais de dez rezes abatida, a noiva já estava na casa grande toda de branca, com uma bela flor vermelha no peito, o padre no altar da capelinha lá no morrinho, começa a tocar a marcha nupcial...

A noiva sai da casa e vai devagar afim de cumprir o seu futuro venturoso, quando começa a subir os degraus, surge em disparada passa pela porteira um cavaleiro, puxando outro cavalo, para pertinho da escada, corre para perto de Tatiana, a abraça dizendo: -"Eu gosto de “ocê fia", quando por todos é reconhecido, é Teixeirinha, o pai da noiva, pega a moça joga no outro cavalo e some com ela nos dois animais, na mesma porteira que entrara, com o mesmo galope que chegara deixando uma nuvem de poeira...

O noivo "seu" Ramiro assiste tudo lá de cima, lá na porta da igrejinha onde esperava sua noiva...

Depois dos fuxiquinhos das comadres, muitos "tititis" ele resolve descer indo para a casa grande. Ali reúne todos os "peões" da fazenda e decreta: _ Pago mil para quem me trazer o Ozires Teixeira morto e dois mil se a Tatiana vier viva... Lei do sertão é lei do sertão... Todos os "peões" saíram a busca do casal pelas cercanias...

Três dias se passaram quando alguns "peões" chegaram trazendo a noiva à casa grande, completando:

- O pai dela agente deixou lá na curva da estrada... Dai pra cá naquela curva sempre acostuma estragar algum carro, muito embora ninguém tem nada com isso, mas é a forma que Ozires Teixeirinha consegue se manifestar...

Goiânia, 23 de julho de 2008.

1949 28/05/2011.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 28/05/2011
Reeditado em 28/05/2011
Código do texto: T2998383
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