O Caso da Frutinha do Macieira

I

Quem não conhece ou pelo menos já não ouviu falar do nosso companheiro Macieira que trabalha no posto bancário da Caixa Econômica Federal da Av. Augusto de Lima e atende com toda a presteza, paciência e bom humor a uma expressiva parcela dos servidores das Varas do Trabalho de Belo Horizonte?

Não há quem não o conheça ou que pelo menos já não tenha ouvido falar nele. E com certeza até mesmo os correntistas dos bancos concorrentes – o do Brasil e o Real - saberiam dar várias informações a seu respeito.

No entanto, convenhamos: não há nisso nenhum mistério. Afinal, o Macieira é o tipo do sujeito e do funcionário de bem com a vida, disposto e atencioso tanto para com os seus próprios colegas de trabalho quanto para nós, os clientes daquela agência. Além disso, ele é competente, educado ao extremo, simpático e se apresenta sempre com o melhor do seu próprio humor, mesmo naqueles dias em que a vida lhe prega peças ou lhe põe no caminho algumas de suas pedras, pedrinhas e pedregulhos. E nisso – devo acrescentar - não somos diferentes do prestigiado poeta que tinha as suas retinas “fatigadas” sempre tão incomodadas pela célebre “pedra no meio do caminho”.

Pois bem: quando eu começei a trabalhar no Tribunal em 1997, ouvira da boca de um colega uma interessante história a respeito do Macieira. E agora, mais recentemente, vim a contatar o próprio personagem principal dessa narrativa e solicitei que ele me contasse pessoalmente os fatos e acontecimentos relativos àquele caso. Ele não se fez de rogado e – parafraseando o cantor e compositor Raul Seixas na canção “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás” – eu poderia dizer que: o povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas e contou uma história que era mais ou menos assim...

II

No final dos anos oitenta e início dos anos 90 era correntista do posto da Caixa Econômica Federal do Tribunal uma mulher muito simpática, alegre e – a exemplo do nosso Macieira – sempre de bem com a vida. Convivia ela de forma muito agradável e respeitosa tanto com os seus colegas de trabalho quanto com aqueles que lhe eram superiores e se apresentava a todos com um excelente “astral”. Ela já passara dos quarenta anos de idade, era baixinha, morena e um pouco cheinha de carnes. Com certeza a grande maioria dos seus amigos e colegas se lembrarão dela com muita saudade.

Era costume de muitos deles chamá-la amistosamente pelo nome de “dona Neide”. Entretanto - e infelizmente – devo comentar que a referida dona Neide começara por aqueles tempos a sofrer os terríveis efeitos da doença de Alzheimer.

Em termos gerais, sabe-se que esta enfermidade é progressiva e que os seus sintomas tendem a se agravar no decorrer do tempo. Os mais comuns são a perda da memória, a confusão e a desorientação do paciente, a ansiedade, a agitação e uma série de dificuldades práticas para realizar até mesmo os mais simples afazeres do dia-a-dia, como alimentar-se ou tomar um banho. É fato comum que pessoas nas fases iniciais da doença de Alzheimer apresentem sério comprometimento da memória, encontrando bastante dificuldade para se lembrarem de acontecimentos recentes ou dos de objetos e pessoas que lhe são próximas.

O fato importante nessa história, entretanto, é que a dona Neide tanto era muito querida do nosso ilustre Macieira quanto gostava por demais daquele companheiro que a atendia sempre de maneira tão prestativa e jovial, buscando encaminhar e resolver para ela todas as possíveis e intrincadas questões que se referissem a sua conta-corrente.

Em certa ocasião, porém, já se encontrando a servidora num estágio adiantado da doença, não conseguira ela se lembrar perfeitamente do nome daquele funcionário que a atendia sempre com excelente humor e cordialidade. Parara momentaneamente diante do homem e se esforçara inutilmente na tentativa de lhe desvendar o nome.

Porém, por mais que lutasse e se debatesse com a própria memória, aquela palavrinha não lhe surgia de jeito algum. O único fato que ela conseguia se recordar era que o referido prenome do bancário tinha qualquer coisa a ver com o nome de uma árvore. E preferencialmente – acreditava ela – com uma árvore frutífera. Foi assim que num dado momento ela se dirige ao Macieira e lhe diz numa voz entre súplice e chorosa:

- Senhor Pereira, Silveira, Oliveira ou seja lá qual for a sua árvore: perdoe-me, mas não estou conseguindo me lembrar agora do seu nome...!

Entretanto – já sabedor das dificuldades pelas quais vinha passando a funcionária – responde-lhe o nosso prezado Macieira:

- Não tem problema não, dona Neide, não tem problema algum se a senhora não se lembrar do meu nome. Pode me chamar como quiser...

No entanto, voltando-se de forma caracteristicamente feminina, educada e muito curiosa para o bancário, interrogou-lhe:

- Mas qual é mesmo o nome da sua frutinha?

- É Macieira, dona Neide, Macieira...

- Ah...

III

Era mais ou menos nesse ponto que deveria terminar o presente caso da frutinha do Macieira. Mas – para lhes dizer toda a verdade – não foi bem assim que terminou não.

O fato é que alguns colegas de trabalho do Macieira se encontravam próximos dele e de dona Neide naquele momento e ouviram toda aquela conversa. Daí a alguns dias, portanto, parte do Tribunal tomara conhecimento daquela história e o nosso prezado amigo Macieira passara a ser o alvo de uma série de brincadeiras às quais ele sempre respondia com o seu inefável e gentil sorriso. Eram frases de efeito e piadinhas mais ou menos nesse estilo:

- E aí, Macieira, como é mesmo o nome da sua frutinha?

Devo finalizar registrando aqui uma dupla homenagem: em primeiro lugar à servidora Neide, amiga e companheira de tanto que a conheceram e com ela conviveram. E em segundo lugar ficam as nossas homenagens e o nosso sincero agradecimento ao colega – e por que não dizer ao “amigo” – Macieira, bem como a todos os demais funcionários que nos atendem diariamente com tamanha atenção e carinho nos postos de atendimento do Banco do Brasil, do Banco Real e da Caixa Econômica Federal, exercendo o seu labor com todo o cuidado e perfeição.