O CUMPADE SEM ÁGUA

Sempre digo que tem que se estudar melhor o aquecimento global. Penalizar um pequeno sitiante e deixar as grandes metrópoles emitindo esse absurdo de gases na atmosfera é tapar o sol com a peneira. Proibir um pequeno sitiante de cortar uma árvore para cozinhar seu feijão e permitir aos latifundiários assassinar milhões de hectares de florestas com intuito de renda é destampar a terra para o sol. Como sempre, o interesse financeiro acima do bom senso.

- Dia cumpade.

- Dia.

- Mais choveu onte hein?

- Uh! Caía era de bica.

- Mais qualé a mais nova?

- É a do cumpade Zé Preto.

- Quê acunteceu mais de ruim praquele coitado?

- Cê sabe quele pega água longe, num sabe?

- Sei cumpade. Pega água lá no arto da serra.

- Puis é. Apareceu um tar de florestar pidino documento.

- Mais o homem num sabe nem lê!

- Puis é. Tão querendo murtar ele.

- Mais por causo de quê?

- Ele num tem a tar da licença.

- Licença de quê?

- Da água.

- Mas a água é dele e da serra.

- Tão falano que na cidade precisa dessa água.

- Mais o quê que nóis tem quisso?

- Puis é.

- Esse povo amuntoa por lá e fica querendo atiná pra cá!

- Isso memo cumpade.

- Ês fica caquelas lavação de cimento e lata e nóis aqui.

- Isso memo cumpade.

- Água num é de ninguém não!

- Isso.

- Água é quenem nóis!

- Cumo assim, cumpade?

- Água só corre quando nasce...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 04/06/2011
Código do texto: T3013733
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