PURGANTE DE PIMENTA MALAGUÊTA

Ao ler uma crônica do professor Antônio Calazans, que, aliás, recomendo-a aos meus nobres leitores, cujo titulo é Cachaça sem Selo-, lembrei-me de Paulo Paulino o popular Mocho meu conterrâneo e amigo. Paulo encomendou-me que lhe arranjasse um litro de pimenta malagueta, mas teria que ser curtida em óleo de cozinha.

Argumentei com ele -, pimenta malagueta curtida em óleo nem o capeta come! –É assim mesmo que eu preciso, quero fazer o explorador do Chico purgante defecar dentro d’água pelo menos uma semana. Não agüento mais a exploração e chatice daquele cara, toda pescaria que programamos o serrote do Chico aparece enchendo o saco bebendo nossa cachaça, metendo a mão nas panelas comendo nosso tira gosto e ainda por cima derretendo aborrecimento.

Tempos depois chega uma senhora ao meu estabelecimento, oferecendo-me pimentas. Não sei se por sorte ou azar o Paulo estava presente. Logo ele a abordou perguntando: – oh dona a senhora não poderia me providenciar um litro desta pimenta curtida em óleo? –Oia moço eu tenho um litro pronto já vai pra mais de dois anos, ninguém compra porque alegam que arde demais -, arde não queima, se ocê quiser posso até dar ele procê? – ótimo, mas quero de graça não, me traga ele veja o preço pago agora. –acertaram a compra minutos após a mulher estava de volta com a tal encomenda.

Esqueci do fato, três ou quatro meses após veio o Paulo procurando se não teria um vidro de boca larga que coubesse uma colher ou um garfo, para lhe arranjar. - O que você quer com vidro de boca larga Mocho? – Arrumar aquela malagueta, vamos à pescaria sábado e preciso botar meu plano em ação! – Tenho vidro boca larga não! – Deixe pra lá eu me viro!

E virou mesmo comprou um pote de azeitonas de 500 ml. E saiu à rua distribui as azeitonas com um grupo de guris que corriam atraz de uma bola, levando o seu pote vazio.

Na semana seguinte chega o Mocho em minha loja contando-me seu feito. –Ah rapaz o Chico purgante a essa altura deve ta com o Butão de molho La no velho Chico. Assim que montamos nossa barraca, ele saiu do seu rancho e foi nos bisbilhotar, no dia seguinte de manhã chega o purgante novamente. Já havíamos combinado deixamos um litro de cachaça a sua disposição enquanto nós preparavamos o almoço. Fomos dando trela alimentando sua chatice como se fosse ele o dono do pedaço. – E com aquele palavreado ele enchendo o saco. –E ai pô essa galinha num tem miudo não? Sorta logo o tira gosto cara! –Tirei os miúdos, já combinado com a turma que a moela seria dele, eu a furei igual uma peneira, espetei com o garfo e mergulhei dentro do pote de pimenta, deixei uns cinco minutos. Sem que ele percebesse. Quando falei pra turma vamos tomar uma que os miúdos estão no ponto ele veio-, eu disse você por ultimo, pode serrotar à vontade, mas respeite a hierarquia, primeiro somos nós o serrote é por ultimo. Cada um tirou seu pedaço, ele logo disse-é oceis e´cumpanhero memo dexô pramim o qui acho mais mió a muela! – bateu uma pinga no peito e abocanhou a moela deu uns dois três tombos com ela na boca e engoliu. Falei pra ele; que isso Chico sua goela até parece ser de jibóia, ele já nem respondeu e saiu dando murro no peito de boca aberta papo pra cima - Puta merda ocêis ta é doido cuessa pimenta do capeta. O resto da tarde andou no entorno do rancho. Noutro dia antes do sol nascer estava dentro rio de molho com o Butão do lado avesso. Na hora de nossa saída gritamos por ele, meus colegas penalizados decidiram doar a ele as sobras dos mantimentos, dizendo compensá-lo pela maldade que fiz. O pobre custou a chegar, caminhando pela trilha, parecia que estava peado. – Que diabo de feiúra é essa pra caminhar Chico? –Ocê inda prigunta é o diabo da malagueta. –Que isso, como é que nós não sentimos nada?

–Só cocêis num tem pobrema de morróia cumu ieu tenho!

Este um caso verídico acontecido com um barraqueiro às margens do velho Chico, ao escrever usei nome fictício, embora como todos nós tenhamos defeitos, ele também tem o seu, mas como ser humano merece respeito. Particularmente jamais eu teria coragem de praticar um ato dessa natureza com uma pessoa, por mais pedante que ela possa ser!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 06/06/2011
Reeditado em 20/06/2011
Código do texto: T3016969
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