ERRO DE INTERPRETAÇÃO

ERRO DE INTERPRETAÇÃO

Levy Pereira de Menezes

À cidade vou dar o nome de Bela Vista.

O personagem principal vou tratá-lo de João Batista.

Os motivos são óbvios.

João Batista era, podemos dizer, analfabeto. Escrevia muito mal.

Tinha muita dificuldade no manejo da caneta. Entretanto, era uma pessoa muito esperta. Tinha uma propriedade agrícola, que administrava muito bem, além de ser estabelecido como comerciante. Comprava e vendia de maneira a dar inveja a muita gente. Além de tudo, tinha pendores para a política, tanto que se elegeu vereador em várias legislaturas. Chegou mesmo a ser candidato a Prefeito de Bela Vista, mas não logrou êxito, sendo fragorosamente derrotado.

Conta-se que, certa vez, João Batista, candidato a Prefeito de Bela Vista, na oportunidade de um grande comício realizado na cidade, ao discursar, afirmara, entre outras coisas:

- Sou o mais véio morador deste municipe. Quando aqui cheguei, em 1938, isso tudo era mata. Quem comeu o primeiro viado aqui nesta cidade foi eu.

Dizem os conhecedores da política local que tal afirmação levou João Batista a perder a eleição.

O tempo passou e João Batista, como disse acima, por várias vezes se elegeu vereador à Câmara Municipal de Bela Vista. Saiu da política, pendurando as chuteiras, por motivo de doença. Mas se recuperou e passou a cuidar tão somente de sua propriedade agrícola, situada no distrito de Beija-Flor.

A conselho de amigos, João Batista resolveu construir uma casa residencial, de alvenaria, na fazenda. Administrou bem, como sempre, a construção.

Concluída a residência, João Batista resolveu construir, nos fundos, uma despensa, atendendo pedido-ordem de sua mulher.

Precisava de cimento. No distrito onde morava nenhum comerciante tinha o produto. Só havia, então, uma maneira: encomendar de Bela Vista. Muniu-se de uma caneta e escreveu um bilhete para um comerciante de Bela Vista, seu amigo, pois este entregava o material na obra:

- Amigo Zeca me fais o favor de mi mandá 1 0 2 saco de simento põe na minha conta dispois eu ti pago. As) João Batista.

No dia seguinte, antes do almoço, chegou à fazenda de João Batista um caminhão lotado de sacos de cimento. O vendedor, honrado com o pedido, fez questão de acompanhar a entrega.

- Bom dia, seu João. Trouxe o pedido do senhor. Onde eu “bato” o cimento.

- Aqui atrais. Pode trazê.

Os ajudantes começaram a empilhar os sacos de cimento no local indicado. Quando já tinham uns dez sacos, João Batista, assustado, disse:

-Zeca, o que qui é isso? Eu não pidi tanto cimento!

- Seu João - disse Zeca - o seu bilhete está aqui. Olha o que que o senhor escreveu: fais favor de mi mandar-mi 102 saco de cimento. Aqui estão os 102 sacos.

- Não, Zeca, óia o que qui eu iscrivi: fais favor de mi mandar-mi um ô dois saco de simento.

levy pereira de menezes
Enviado por levy pereira de menezes em 27/11/2006
Código do texto: T303002