O Labrador

Era o fim do outono e começo de inverno. Todos os meninos ainda respiravam e olhavam-se ao seus limpos espelhos. Eu poderia sentir tudo o que me rodeava se tivesse dezesseis anos, mas Marguerite apenas me abraçava e insistia em dizer que eu tinha olhos limpos. Talvez, talvez se minha mente pudesse funcionar só alguns segundos eu pudesse salvar todas as meninas. Tantas mentes cruéis, começando pelas dos meus irmãos, cada garoto e suas mãos grossas, cheias de ideias em que só em histórias de horrores se ouviram falar.

Talvez eu faça alguma diferença, mas onde posso começar?

Eu costumava acordar todas as manhãs de inverno e ver as cinzas da lareira descansando sobre a janela enquanto a luz gélida cobria num tom tão branco que eu poderia sentir um cheiro de anjo. Agora aos quinze eu peço para que esses anjos não me deixem mais acordar quando eu fechar os olhos. Eu tenho dito todos os dias que sinto tantas dores na coluna, quando meus olhos abrem eu sinto minha mente tão cansada. Cada vez se torna tão raivoso ouvir Marguerite dizer "bom dia, meu menino", enquanto ergue aquela xícara de chá e aquele pedaço de torta de milho. Às vezes enquanto eu leio histórias e o Sr. Henry diz que isso me acrescentaria muito eu me sinto como se estivesse fazendo algo errado, eu tenho a sensação de seus lábios tocando minha testa e escorrendo até o meu sexo. Mas, até onde eu posso ver? às vezes, só às vezes eu sinto que devo abaixar os olhos.

À tarde eu às via sentadas em umas escadarias que levava até um beco na Sunset Strip, todos sentíamos o cheiro de fumaça que saiam de suas saias. Normalmente nunca íamos até onde seus seios se encontravam, mas o que haveria de mal? Sylvia apenas segurou a minha mão e pôs em seu color, talvez sentisse a sensação de ser uma bailarina ou de uma liberdade que seria para sempre. Seus olhos verdes, tão esbugalhados quanto na hora em que a encontraram na Dohey.

Talvez Sylvia quisesse me abraçar, eu poderia ver nos seus olhos a diferenças das outras meninas da Sunset Strip, mas June ainda poderia segurar meus braços. Se me perguntassem - Não, não sei - Eu apenas correria até os braços de uma árvore e respiraria ofegantemente com os olhos semicerrados, June correria atrás de mim por semanas. Eu podia sentir os calos da mão de June, sua pele branca e suja, seus olhos verdes e tristes, mas ainda sim não sentia um coração. Às vezes quando estou sozinho no meu quarto eu penso em June, costumo pensar nele como um amigo... Que me toca e me cobre nessas horas difíceis. Trocamos poucas palavras, mas eu sei que ele sabe meu nome. Seria tão doce calmo, eu posso imaginar, às vezes, com os olhos fechados eu consigo ouvir ele me pronunciando "Hugh". Meus olhos esquentam por dentro e no chão minhas costas ainda estão doloridas.

Mesmo com um pano quente no rosto eu ainda posso identificar as mãos de Marguerite. Ela esta segurando a minha. Eu me sinto tão vúlneravel. Porquê eu me sinto tão ? Acho que seria agradável se eu voltasse à Orleans.

Voltamos a ir todos os domingos à um igrejinha duas ruas depois. Posso ver Sylvia às vezes tocando meus ombros. Me sinto tão atraído pela voz de Carlos - Um jovem padre latino - ele me faz me sentir tão seguro, posso ouvir por horas ele dizendo a mesma palavra "Veja, vejam". Sua voz me faz tão bem que eu poderia fazer bem à ele. Não costumávamos convidar estranhos, mas parecia que Marguerite fazia questão em que Carlos fosse até nossa casa todas as noites. Eu subia as escadas no final de cada jantar e podia sentir ele me acompanhando até o quarto, algumas vezes ele passava pasta na minha escova dentaria. Carlos era tão amável, mas talvez o Sr. Henry já soubesse disso.

Fim das férias de inverno e posso sentir os livros me conduzirem até a décima sala no terceiro andar. Algumas pessoas insistem em empurrar a porta. Eu acho gozado o jeito como o Sr. Anderson se dirige à mim - Professor de artes plásticas - "O marinheiro", ele diz. Às pessoas dizem que normalmente se nada de olhos fechados.

- Soube que a Miss Loris de inglês faleceu nesse semestre

Ouvia-se comentar pelos corredores, dizem que o ônibus saí às duas horas. Talvez Marguerite deixe-me ir.

Eu sentia seus olhos enrugados que levavam em caminhos diferentes até os pés. Lembro que quando entrei no primeiro ano ela me emprestava alguns livros de jovens autores. Ela diziam que se há algo do que se acrescentar deve vir dos jovens autores. Eu apenas sorria e às vezes concordava. Acho que deveria lhe escrever uma carta, acho flores tão rígidas.

Eram três minutos para sempre, talvez não fosse pelo perdão de Deus, mas June. Eu senti que Carly não queria parar de respirar, eu sentia Sylvia e sua culpa. Mas, lá estava June e suas mãos grossas me envolvendo como eu costumava imaginar. Me desculpe June.

Algumas pessoas diziam que June era o perdão de Deus, mas Deus, Obrigado.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 23/06/2011
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