NOS MEUS TEMPOS DE CRIANÇA...

Nos meus tempos de criança, uma nova notícia era difícil de aparecer. Gravo em minha memória coisas relevantes que aconteciam de anos em anos. Ainda na roça, minhas lembranças vagam com a morte de duas pessoas que foram carregadas num bangüê, enroladas num pano branco, e carregadas por vários quilômetros até achar uma estrada descente e uma condução (veículo). Num desses casos que não esqueço, fui junto a meu pai que ajudava no enterro de um filho de um meeiro que era epilético. Naquela época não tinha pontes, depois de atravessarmos por duas vezes o mesmo ribeirão começou a chover forte. Arranchamos o enterro na casa de um vizinho e não mais parou de chover. E choveu o dia inteiro, a noite inteira... Ribeirão cheio de demais, não dava para ir nem para voltar... Na casa do bom anfitrião começou acabar coisas de subsistência como querosene, torresmo, café...

No meio da sala, em cima de uma grande mesa de madeira jazia o defunto enrolado naquele pano branco. Ninguém mais chorava, ninguém mais rezava, todo mundo só se preocupava com a vida de quem por ali estava. Não queria rimar mas foi assim que por lá aconteceu.

Mas como no outro dia não parou de chover e o defunto já dava lá seus sinais da morte, com autorização do proprietário das terras, fizeram o óbvio:

Debaixo de uma chuva torrencial, aos clamores de “Vá com Deus”, enterraram o infeliz no quintal da casa à poucos palmos de profundidade. Até hoje, quando passo perto dessa casa, me lembro do ocorrido e ainda por lá existe um pedaço de pau de candeia, que foi sustentação de uma cruz que por lá perdurou por décadas.

Só falei desse causo de minha infância para fazer um comparativo com as notícias que os seres humanos absorvem hoje.

Não sou contra a informação, não sou contra a internet, longe de mim; acho que a internet, desde que usada para o bem, foi o maior ganho da humanidade até hoje. Mas...

Somos metralhados pela mídia como se fôssemos a presa e não o caçador. Não mais consigo lembrar da notícia que a televisão mostrou ontem e lembro de coisas simples que aconteceram em minha infância. Aquilo aconteceu em minha vida e a mídia quer que a gente participe da vida dos outros para vender suas cachaças. E tenho que admitir que ela vicia o povo. A midia virou uma beata, horrorizando crimes hediondos e no intervalo comercial faz propaganda de bebida com coisa que bebida nao seja droga. A guerra por ibope esta transformando o cidadão comum num simples 'cliente', nos dando um enorme direito de comprar, mas nos tornando incapazes de quetionar. JOSE EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 15/07/2011
Código do texto: T3097860
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