EU SOU O LADRÃO DE URUCARÁ
Autor: José Gomes Paes
01/08/2011
Certa vez chegou um forasteiro na cidade com a família e tudo, de mudança fora morar ali em Urucará, não tenho conhecimento se foi por convite de alguém ou se chegou assim de supetão, talvez por informação de alguém de que a cidade era acolhedora e boa de morar. Alugou uma casa feita com assoalho de madeira para morar, paredes e cobertura de palhas, que se localizava bem próximo ao cemitério da cidade.
Era um homem trabalhador, fazia moveis, artesanatos, com isso passou a ser conhecido na cidade e a viver bem com a família, que se resumia na mulher e duas filhas pequenas.
Com pouco tempo todos já o conheciam e o apelidaram de Bombril, talvez pelo seu cabelo bem encaracolado, não o conheciam pelo nome verdadeiro. Era caladão e muito respeitador.
Assim como ele, muitos outros forasteiros chegaram à cidade para fixar residência, mas o Bombril foi diferenciado pelos moveis e peças de artesanato que fazia.
Com o passar do tempo, foram acontecendo alguns roubos na cidade, principalmente nas lojas de maiores porte que eram poucas. A cidade não tinha luz elétrica depois da meia-noite e o intruso aproveitava a situação para agir. Já tinha visitado o Seu Dedé Ramos, o Seu Dibo, Seu Wilson Beltrão, Seu Zé Paes e Seu Falabella, que eram os maiores comerciantes da cidade.
Os comércios eram de construções antigas com paredes largas altas, feitas com areia e barro, com esteio de aquariquara (madeira de lei dura que nem ferro) e o intruso para chegar ao comercio, escalava essa parede como se fosse um rapel, quer dizer era gatuno bem experiente.
Como a policia não descobria quem era o intruso, os comerciantes resolveram tomar a iniciativa, o Seu Falabella colocou uma armadilha que acabou pegando seu padeiro com um tiro nas pernas, que graças a Deus está bem. O Seu Zé Paes montava plantão pela parte lateral do comércio a madrugada toda com arma em punho, assim como os outros comerciantes.
O gatuno vendo que estava sendo vigiado, resolveu mudar de estratégia, optando a assaltar o SAAE, empresa que fornecia água para a cidade, que ficava quase em frente a casa onde morava, arrombando o cofre e levando uma volumosa quantia em dinheiro.
Ocorre que depois que começou a acontecer os roubos o Sr. Bombril também parou de trabalhar, com isso, o pessoal que já estava investigando, começaram a desconfiar dessa pessoa. Depois do roubo no SAAE, os investigadores foram mais incisivo. Mandaram uma pessoa a sua casa, só que ele não se encontrava, dizendo sua esposa que ele fora pescar no Lago da Ilha.
Ele não era de pescaria. A desconfiança aumentou, tendo a policia ido a boca do lago esperar pelo Sr. Bombril, convidando a entrar no barco que iriam lhe dar uma carona.
No barco começaram a indagar, entretanto só confessou na Delegacia isso por volta das 22:00hs, tendo inclusive indicado onde escondera o dinheiro, que foi recuperado.
Sabe como é, na época, cidade pacata, um acontecimento desse chamava a atenção de todos e a policia agia com rigor, não tinha advogado nem juiz na época. O Delegado é que tomava as decisões.
O que fizeram com o homem? Fizeram uma placa de madeira, com os dizeres: “EU SOU O LADRÃO DE URUCARÁ”, e o colocaram em suas costas e andar em todas as ruas da cidade, para mostrar a população quem era o homem que roubava a cidade.
Passou um bom tempo na cadeia, quando os padres pediram uma nova chance para ele o levaram para Itacoatiara. Diz-se que depois de um bom tempo, o gatuno fez a mesma coisa com os padres, que fizera em Urucará.
Esse foi um fato que jamais esqueci.
FIM