MORREU NO ANONIMATO...

Eu tinha um ex-colega de trabalho, oito anos mais velho que eu e que pautava sua vida, no campo do amor, pela filosofia do amor de 10 minutos... Eu explico:

Há muitos anos, o cantor e compositor, Ataulfo Alves gravou um samba chamado Infidelidade, onde a letra diz assim: Aquele que considera o amor uma quimera/ vive longe do sofrer/ tem sempre os olhos enxutos/ seu amor tem dez minutos/ e nelas não deve crer/ São falsas na maioria/ e quando o homem confia/ em tudo que a mulher diz/Eis a traição consumada/ uma vida desgraçada/ um lar a mais infeliz/Gostei de uma criatura/sem moral, sem compostura/sem coração, sem pudor/ Era o dono do negócio/sem saber que havia um sócio/ na firma do nosso amor... E por aí vai...

Mas, o meu ex-colega, muito fã do Ataulfo Alves e adepto dessa filosofia era um cara bem apessoado, intelectual, morara anos no exterior, enfim, um homem atraente que não queria saber de compromisso com mulher alguma. Ele estava com 40 anos e nada de se casar. Acho que possuiu todas as mulheres que quis. Cada semana estava com uma diferente...

Eu e outros colegas vivíamos falando para ele: “Se não casar, vai morrer no anonimato!”

Ele sorria, desconversava e dizia: “Mulher tenho a hora que quero, e depois o amor pra mim é uma quimera, apenas dez, vinte minutos, casar pra quê?...” E completava, afirmando: “Não estou a fim de aturar a TPM de uma mulher...”

Até falei para ele que aquele medo de compromisso era insegurança, medo de ser traído, e disse que se isso acontecesse, que arranjasse outra, pois são três bilhões de mulheres no mundo, que não se preocupasse... Porém, não dava ouvidos a ninguém, nem à própria mãe.

Ele morava com a mãe, uma senhora viúva de uns 85 anos de idade. Tinha como parente próximo uma prima solteira, já de idade avançada e mais ninguém.

E continuávamos insistindo: “Tem de namorar, casar, senão morre no anonimato...” “Você para completar a vida na Terra, precisa plantar uma árvore, escrever um livro e ter pelo menos um filho”. Ele sorria, e dava de ombros...

Um dia, sua mãe faleceu, ele ficou triste, mas continuou solteirão...

Aposentou-se do serviço e perdi contato com ele.

Alguns anos depois, a prima também morreu, aí ficou sem nenhum parente no mundo...

Passaram-se os anos ele chegou aos 68 de idade, sem casar e pensando na teoria do samba do Ataulfo...

Morava sozinho em um apartamento, e teve uma problemática num dos pés, ficou acamado sem possibilidades de caminhar. Tinha uma empregada que ia fazer comida, limpar o apartamento, mas essa empregada mudou-se de cidade e ele não conseguiu arranjar outra.

Então, um amigo mais chegado, passava todos os dias num restaurante e levava comida para ele.

Assim ficou mais algum tempo, teve uma melhora, começou a se escorar numa muleta, mas não conseguia andar.

Dia desses, o amigo foi levar a marmita para ele e o achou morto, caído ao lado da cama...

Conclusão: Morreu no anonimato!

Por isso que eu digo: namorar é preciso, casar, morar junto, ter filhos, arriscar e, se não der certo com uma, tenta com outra, senão, morre no anonimato...

Ainda bem que eu já plantei árvores, já escrevi mais de um livro, tenho quatro filhos. Ao menos sei que no anonimato não morro de jeito nenhum...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 13/08/2011
Reeditado em 13/08/2011
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