TERRA FRACA

Abastecia meu carro, sempre que podia, no posto de gasolina denominado Posto Vagalume”, situado na Praia do Suá, em Vitória, ES, do qual era gerente um grande sujeito conhecido por Zequinha, pessoa simpática, prestativa, falante e que estava sempre disposta a prestar auxílio a quem dele precisasse.

Zequinha, quando lhe sobrava um tempinho, puxava conversa com os usuários do posto. Tinha prazer em comunicar-se com tantos quantos lá iam para abastecer ou colocar pressão nos pneus. Mas quando alguém lhe contava uma mentira, mesmo que fosse por brincadeira, Zequinha mudava o semblante, ficava sério, arregalava os olhos e procurava se desvencilhar da pessoa. Tal procedimento causou-lhe sérios problemas, pois os fregueses, conhecendo esse lado dele, de não gostar de mentiras, não perdiam a oportunidade e lascavam uma baita mentira nos seus ouvidos. Quando podia sair, saía, mas nem sempre isso era possível.

Narcizo Coimbra, “moleque” por vocação e por hereditariedade, tomando conhecimento desse lado do Zequinha, não perdia uma oportunidade. Todas as vezes que ia ao posto azucrinava a cabeça dele, com duas ou mais mentiras, daquelas cabeludas.

Com o passar do tempo, Zequinha mudou de tática e passou a, também, contar umas mentirinhas para os seus fregueses. Mas não se deu bem, já que não levava jeito para essa arte.

Certo dia, Narcizo parou no posto para abastecer o carro. Zequinha quando o viu aproximou-se e contou-lhe o seguinte:

--Sabe, Narcizo, faz algum tempo que um freguês que sempre abastece aqui, me deu, de presente, uma cana caiana, grande e bonita. Levei-a para casa. No outro dia minha mulher me falou que tinha cortado um gomo da cana, que tinha um “olho” muito bonito, e o plantou no fundo do quintal. Tudo bem, mas eu chego tarde à casa e saio muito cedo. Jamais vou ao quintal. Mas, ontem, de manhã cedinho, quando me preparava para enfrentar o trabalho, minha mulher me disse: Zequinha, eu quero que você, antes de sair, vá ao quintal para ver a cana que eu plantei. Fui lá. Fiquei pasmado, bestificado mesmo, quando vi aquela quantidade extraordinária de canas. Tive o cuidado de contar, uma por uma. Narcizo, naquela única touceira eu contei, com redobrado cuidado, trezentas e sessenta canas.

Narcizo, que ouvia a história com o máximo de atenção e interesse, não perdeu tempo e disse, com a autoridade de um agricultor que ele sempre foi:

-- Pois é, Zequinha, terra fraca é assim mesmo, nunca produz o quanto a gente espera.

Zequinha abriu exageradamente os olhos e saiu do local mais rápido do que um calango.

levy pereira de menezes
Enviado por levy pereira de menezes em 13/12/2006
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