Casa Verde

Rosinha,

Saudades do cê!

Estes dias estava vagando sem o que fazê e me ajuntei com uns parvos aqui, que queriam ir para Aparecida do Norte, pagar ou fazer promessa, num sei bem o quê, o cê sabe que nun interesso por estas coisas, num é? Poisentão, num tinha o que fazê e fiz companhia. Meia caminhada andada quando me deparei cum esta casinha pintada de verde e barrada de azul, já que tava indo pra Parecida, resolvi fazê um pedido pra ela, depois pago a promessa, agora já conheço o caminho, num custa tentá, não é? Pedi para N. Sa. Que aprovidencie um modo deu compra estas terrinhas com esta belezoca em riba. Já vejo você lá cozinhando o feijão e, em riba do fogão peças de porco dependuradas para defumá. O dinheiro que tenho da empreita de meeiro não é muito, Rosinha, mas dá pra fazê uma proposta e virar a cara pro outro lado, se de repente sua madrinha (Aparecida) nos ajudá, vai dá. Eu vi lá, pouca coisa para mexê prá nos acomodá, luz num tem, também não precisa, né? lamparina arresorve! Não!? Tá bem, eu compro um lampião pra cozinha, mas de querosene, o a gás tá mui caro. Geladeira não carece, pois nos fundos da casa desce um ribeirão da serra com as águas geladinhas, onde a gente pode por as garrafas para gelar num instantinho. Vi também que podemos ajeitá nossa cama com as madeiras que tirá lá do matinho e o colchão fazemos de paia de milho desfiada, tirando os umbigo das espigas para não cutuca a genti de noite, vamos fazê muito rebuliço lá. Vou vê se compro as galinhas tamém, a gente põe uma pra chocá todo mês, pra nunca farta o franguinho do fim de semana. Aqui num vai ter televisão e nem computadô, ouviu? O cê pos reparo como as famías diminuíram depois desta tar da televisão? A famia do meu pai era doze irmão e da minha mãe tamém, hoje onde o cê vê uma famia deste tamanho? Falta tempo pra furunfá? Aqui não! Agora qui tem estas tar de bolsa famia, bolsa escola...vamo pô menino no mundo, so! Outra diversão vai ser pescá lambari, traíra e bagre nos açude dos vizinhos. Vai ser bão num é? Rosinha, você sempre pede pra fala que ti amo num é? Poisentão está espaiado por toda esta carta isto aí, é só enxergar de maneira diferente.

Rosinha,

Um beijo debaixo do seu nariz, tá!

Do seu José Raimundo Silva

Eu, mesmo, o Zé Pequeno do Arraiá de Pedra Bela

Defranco
Enviado por Defranco em 26/08/2011
Reeditado em 26/02/2016
Código do texto: T3183331
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