Mais Uma Alma Vendida Pro Capeta (EC)

Seu Severino. Ô véio danado! Gostava de se meter em encrenca e das bravas. Certa vez ele fez um trabalho pra cumadi dele. Ela queria voltar com o marido, mas o fanfarrão do bebum sabia que o marido da cumadi dele ia pedir pra voltar pra ela na mesma noite. O que ele fez?

- Ô cumadi, não posso fazê esse trabaio não...

- Como assim cumpadi? Cê nunca negô trabaio nenhum!

- É que é trabaio pesado e meu preto véio cobra caro...

- O que ele quiser eu dô homi, chama ele a mode a gente resolver isso já!

Seu Severino se remexeu, remexeu, fez careta, se encurvou e fingiu uma voz mais velha que a dele e começou a falar manso. De repente encarnou o preto velho.

- Ôcê qué o quê de mim mia fia? – era o preto véi fingido.

- Ô pai, quero meu homi de vorta.

- Fia, me traga um litro de cachaça e um maço de pito e cinquenta conto a mode a matéria levar pra encruza.

A cumadi de Seu Severino foi buscar tudo o que ele havia pedido. Os cinquenta reais, o maço de cigarro e a cachaça.

- Eça fia, ê fia – ele ria.

Ele acendeu o pito, tomou um gole de pinga e falou uma reza três vezes. Tirou uma guia que estava no pescoço de Seu Severino, defumou com o cigarro e pediu pra que fosse jogada na correnteza.

A velha ficou agradecida, na fé de que tudo daria certo. Na mesma noite seu marido voltou pra casa. Seu Severino pegou o dinheiro guardou no bolso e foi beber o resto da pinga na primeira encruza que encontrou. Bebeu tanto que acabou tendo alucinação. Viu uma moça formosa do outro lado da rua e jurava que ela estava de olho nele. Aí então, resolveu chamar o bicho.

- Véio sem dinheiro, sem dente, sem caraio nenhum, quem qué? Amardiçoada! Ô cabrunco, vê se aparece seu fio de uma rapariga. Me faz homi rico que eu li dô um leitão.

Assim que amanheceu foi na casa lotérica fazer um jogo na mega sena. À noite matou um leitão, temperou, colocou no fogo e levou pra encruza. Mas já estava tão bêbado que quase devora o bicho antes mesmo de pagar a promessa pro capeta. Se sentou ao lado oferenda, pegou a garrafa de pinga, a bebeu toda e partiu pra cima do leitão, até não sobrar nada.

No dia seguinte, seu filho, José, pede pro pai conferir o jogo que havia feito. Seu Severino pega a aposta dele e a do filho e vai até a lotérica. O bilhete do velho não tinha sido premiado, mas a aposta do filho estava recheada em trinta milhões.

- Ô meu fio, seu jogo num deu nada não...

- Ixe, mas e o do Senhô?

- O meu deu um bocadinho, olha aí...

José só fazia jogo automático então não se ligou que o jogo era o dele.

À noite o velho pegou uma garrafa de pinga e foi pra varanda. E cantarolava, rindo, lembrando da sacanagem que tinha feito com a cumadi dele.

“Quer falar com Pai Véio vem agora, porque Pai Véio já quer ir-se embora. I mas meu fio tú vai na paz de Deus, que agora meu fio tá seguro e vai ganhá tudo o que perdeu, Pai véio vai lhe dá grande futuro e voltá com todo povo teu, por favor não me traga ninguém duro.”

Ficou tão bêbado que imaginou ter visto o cão na sua frente. Um cavalo com cabeça de touro e um chifre bem grande. O touro ria muito. E ouviu aquele ser do inferno falar alguma coisa com ele.

- Cê vai me dá em troca teu sangue e mais tarde eu volto pra buscar o que é meu.

Seu Severino achou que estava ficando doido. Falou pra sua esposa que não acreditou em nada do que disse porque ele vivia à base de cachaça. Na manhã seguinte o bebum aprontou uma pro capeta. Já tinha vendido a alma e tinha ficado rico. E comeu o leitão que ofereceu pro cabrunco. Mas não tinha saída. Ele não queria morrer e sabia que a morte cobrada pelo cão seria com muita dor. Vestiu sua melhor roupa e caminhou até encontrar a primeira igreja evangélica. E foi assim que aconteceu! Ele virou crente, mesmo usando o dinheiro sujo da capeta.

Seu Severino deu uma rasteira no diabo. Mas o diabo cobra, ah se cobra!

Esse texto faz parte do Exercício Criativo - '... Foi assim que aconteceu.

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Obrigado a todos e ótimo mês de Outubro!

Hilton Luzz
Enviado por Hilton Luzz em 30/09/2011
Reeditado em 30/09/2011
Código do texto: T3249959
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