ESCARRADEIRA DE PRATA

Um dia desses assistindo a uma partida de futebol pela TV, a câmera focalizou um jogador no momento em que dava uma cusparada. Não questiono o jogador, este, debaixo de sol escaldante e o calor literalmente da peleja, o esforço físico deve, sei lá o que, provocar salivas. Naquele momento lembrei-me de como era antigamente, principalmente nos tempos de infância e adolescência. Era muito comum as pessoas cuspirem pela casa afora. Uma vez entrei no quarto de duas primas, já casadoiras, e constatei o assoalho cheio de cuspes e escarros. Embora aquilo fosse bastante comum, achei esquisito e senti náuseas. Essa cena foi em 1942. Hoje ainda fico incomodado, vendo as pessoas escarrando e cuspindo nas calçadas. Sem dúvida, em pleno século 21, ter esse comportamento é uma tremenda falta de educação.

Dei esse intróito para falar de uma passagem pitoresca, que meu pai contava, sobre um personagem, conhecido dele, que teria se passado mais ou menos nos fins dos anos 30 e começo dos anos 40. Havia um vilarejo sem a mínima estrutura, que virou um município, com finalidades eleitorais ou eleitoreiras. Naquele tempo, pequenas cidades tinham um juiz, um delegado, um médico e um advogado. Esses tinham residências, melhores móveis e comportamentos etiquetados. Esses lugares viviam as intempéries, épocas de muito sol, muita poeira, tempos chuvosos de muito barro. Na entrada das casas tinham uma barra de ferro, para diminuir um pouco o barro impregnado das botas e botinas. Um fazendeiro fora à casa do advogado contratar seus serviços, para demanda de terra. Ao adentrar à casa do Doutor, foi-lhe solicitado a tirar um pouco do barro de sua bota, coisa que ele não gostou. Durante conversas o fazendeiro encheu um cachimbo de fumo e dava baforadas e cuspia. O advogado buscou uma brilhosa escarradeira de prata e colocou-a ao lado direito em que o fazendeiro cuspia. Então, ele passou a cuspira para o lado esquerdo. O Doutor colocou-a do lado esquerdo e o ignorante fazendeiro voltou a cuspir do lado direito. Novamente o advogado colocou a escarradeira do lado em que o fazendeiro escarrava. Foi aí que o fazendeiro reagiu, irritado: “Ô dotor, o sinhô mexe tanto com isso que uma hora eu cuspo dentro disso!”. O advogado respondeu: “É para o senhor cuspir mesmo!”. O fazendeiro ainda questionou: “oceis grãofinos inventa cada coisa,!”.

Sô Lalá
Enviado por Sô Lalá em 05/10/2011
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