Certa vez, a noite, quando eu ainda era uma menina, ouvi um assoviu. Senti meus pelos se arrepiarem e uma terrível sensação de medo invadiu o meu peito. Após o assoviu um grito eu escutei: matinta perera... fiu... fiu. Um pássaro negro no ceu passou. Meu vizinho logo me chamou: Você ouviu aquele assoviu? Respondi que o assoviu me assustou. Ele então me contou: lá para as bandas da floresta vive, à beira de um rio, uma velhinha que parece docê e inocente, mas no fundo ela é uma assombração. Durante o dia ela mistura uma porção. À noite ela transforma-se numa terrível criatura e assusta a população.
Quando a matinta assovia está pedindo tabaco e você deve dizer: vem aqui em casa apanhar. Ao amanhecer você vai receber um visita. Uma distinta velhinha na tua porta vai bater. Deves entregar o tabaco sem nada perguntar, pois desta forma a matinta nunca vai te pertubar. Porém, se não for atendida solta um terrível assoviu e transforma-se num pássaro negro para a sua vítima atacar. Aquele que os seus olhos encarar corre o risco de surtar e ficar vagando sem rumo e lugar.
Contam os moradores do Pará que muitos caçadores já enlouqueceram, pois ela não aceita que destruam florestas ou maltratem os animais.
Acontece, porém, que próximo a casa da velhinha uma madereira se instalou. Derrubaram àrvores, fizeram queimadas e até o riacho poluiram. Nunca mais aquele assoviu se ouviu, também não vi mais as palmeiras, os tatus e os jacarés. Hoje tornei-me adulta e na matinta perera nem ouço mais falar. Dizem que quando os madeireiros queimaram as florestas ela chorou, foi embora e nunca mais voltou. Outros dizem que ela nunca existiu e na verdade não passou de imaginação daquela criativa população. Não sei em qual versão acreditar, só sei que da matinta perera eu nunca mais ouvir falar. Outro dia minha filha me perguntou se também o boto se mandou. Eu não soube lhe responder, mas pude lhe dizer que as fábricas que na nossa região implantaram muitas árvores derrubaram e que tabém poluiram os rios.
Nas minhas orações peço a virgem de Nazaré que não deixe que destruam nossa região. Chega de desmatamento e poluição. Quero de volta a matinta perera e também o boto nos nossos rios. Já basta terem levado a borracha da Amazônia, explorarem nossos ribeirinhos e ainda querem nossas frutas, sementes e árvores.
Francineti Carvalho
Enviado por Francineti Carvalho em 02/01/2007
Reeditado em 15/06/2011
Código do texto: T334688
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