O amor e a serpente

A linguagem do coração navega nas emoções e com Marieta não seria diferente. Nascida e criada ali na cidade de Jacobina, foi para Salvador e formou-se para professora. Marieta foi criada dentro da igreja, pois seus pais eram religiosos fervorosos, inclusive em Salvador Marieta era o tempo todo escoltada pela sua tia Filomena.

Ali em Jacobina poucas terras são cultiváveis, mas as poucas que tem são boas e Marieta era filha de um daqueles coronéis. Ela era uma moça prendada, ou seja, rica, bonita e formada. Ali não havia ainda um rapaz que segurasse sua atenção, mas um certo dia chegou transferido de Salvador um rapaz de nome Salustiano, um professor de boa aparência, muito religioso, tocava violão muito bem inclusive na igreja.

Não demorou para que os dois apaixonassem-se um pelo outro, nenhum dos dois precisou suar a camisa para conquistar o amor, um amor plácido e fatal. Nós já temos conhecimento de que “amor” bonito e fácil não dura muito tempo. Certo dia Marieta percebeu na fazenda de seu pai um vaqueiro novo que lhe chamou sua atenção pela elegância no manuseio do gado e chegando mais perto ela percebeu os olhos verdes e brilhantes do vaqueiro e quando ele sorriu o destaque eram os dentes bem formados e brancos como a neve.

Não contendo dentro de si Marieta perguntou seu nome e ele disse que se chamava Gumercino e saiu no manuseio do gado. Ele nem percebeu que sua patroa lhe exigia mais atenção. Ofendida ela a mãe de três filhos mandou que ele selasse dois cavalos e lhe aguardasse no topo daquela serra, ele fez uma observação: Senhora já está um pouco tarde. Ela chamou sua governanta e tomou o rumo da serra. Ele não tinha como desobedecer.

Aquele por do sol estava diferente e maravilhoso dava-se para perceber. Gumercino subiu a serra e sentado numa pedra debaixo de uma frondosa árvore aguardava calmamente, já cansado de esperar distraído brincava com algumas formigas quando ele levanta seu olhar, não podia acreditar no que via, aquela linda mulher a sua frente já desnudava seu lindo corpo, as roupas caindo sobre as folhas formando um tapete terminando aquele cerimonial estonteante ela o tomou pelo braço e o puxou para cima daquele corpo ofegante e oferecido num piscar de olhos ele também se despiu e aqueles corpos suados e despidos rolavam sobre as roupas e as folhas.

O que eles não viram no deslumbrar dos acontecimentos é que ali naquela sombra havia uma cascavel que aguardava a chegada de um rato para sua refeição da tarde e o bicho enfurecido com aquele massacre começou a picar aqueles corpos suados e dentro de pouco tempo Gumercino foi quem primeiro percebeu que estava deixando este mundo, pois se sentiu cego e o mundo rodava sem parar. Não sabemos se tentou fugir ou pedir socorro e Marieta ofendida vendo ele sair sem dar explicações pegou com as duas mãos num de seus pés e não largou, mas ela também já sentia a ânsia da morte. A governanta com medo do escuro que já precedia voltou para a fazenda e pediu ajuda.

Com tochas e lanternas chega ao local o senhor Salustiano acompanhado dos empregados ao presenciar a cena ficaram pasmados e calados. Salustiano sentenciou não matem a cascavel. Ele comentava consigo mesmo “comigo ela tinha vergonha e sempre fizemos amor no escuro”. Os olhos de Marieta estatelados fixados nos pés do amor que tentava fugir ainda brilhava.