Licor ao Relento

Impregnada diante da cadeira putrefata, imagino me em tamanha solidão e tamanho desejo de ruptura constante. Janelas vazias soprando o vento que aglutina em minhas constantes lágrimas que insistem em cair. Penso no subúrbio de minha paranoia que me cega por completo, não sabem que aquilo era meu desejo de uma vitória sem limites, onde o céu era apenas o começo.

Licor em uma taça na mão esquerda, cigarro queimado na direita e eu olhando através daquelas inúmeras folhas de papel, solto uma pequena fumaça que preenche o ambiente vazio e esvazia meu pulmão que já está cansado de doer. Está amanhecendo e paro para refletir no que meus instintos querem rever, árvores segurando frutos e vento que sopra a retomada de algo fragmentado que a brisa já levou. Nada volta por completo e o tempo parece prender minha respiração.

Fechei as portas para o mundo e me deliciei ao sabor de uma bebida gélida que rasteja em minha alma tão fria como a névoa. Voltar ao passado eu já não quero, relembrar dele muito menos. Mobilizar me com algo novo já torna - se passageiro, mas ainda há esperanças de algo melhor para se viver. Enquanto a chuva arrasta o que precisa ir embora, continuo conformada com o súbito prazer de te olhar em minha memória. Aqui dentro sinto medo, trovoadas me cegam e relembram o que já foi dito.

"Fique calma, é só a chuva lá fora" Sussurra meu inconsciente, e é assim que adormeço, comendo de uma comida que é minha, vivendo um dia que não é meu.

Priscila Czysz
Enviado por Priscila Czysz em 23/12/2011
Reeditado em 22/01/2013
Código do texto: T3402711
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.