Tempo irreversível

Pesadelo. Era o que resumia os meus acontecimentos daquela noite. Foi algo desesperador que poderia ser chamado de real. Os meus batimentos cardíacos aceleraram e minha respiração estava tensa, cada vez mais suave, cada vez mais fraca. Lágrimas surgiram incontrolavelmente e eu só pude reagir passando a manga do pijama através das gotículas salgadas e teimosas que cobriam meu rosto cada vez mais velozmente.

-O que houve? -O rapaz que dormia ao meu lado acordou com meu barulho. Apoiou a mão em sua cabeça e com a outra tirou os fiapos de cabelos que ficaram molhados e haviam grudado em minha face.

-Nada. Tive um pesadelo, só isso. -Respondi ainda um pouco assustada, e atordoada com o que fui obrigada a reviver no sonho.

-Então conte - me. -Insistiu ele puxando o meu corpo para si. Aquele abraço era um dos únicos que me acalmava.

Eu não queria contar sobre o que meus testemunhos presenciaram, novamente. Era uma das lembranças mais sombrias que se cabiam a mim e a toda minha imaginação que pregava peças. Lá estava eu com apenas alguns anos de vida, sem experiência alguma sobre o que estava por vir, os cachos do meu cabelo voavam em um pequeno tom que era bonito de ver no ar, um tom com tamanha juventude. Vestido rosa cobria meu corpo e diante daquela árvore apareceu "ele", outra vez me surpreendendo. Era o "medo", a "desilusão", aquilo que me tocava profundamente e pedia para eu não chorar, "Não é de seu feitio chorar, e ninguém quer saber o que eu faço com você, quer?" Então o assunto morria assim, sem ao menos me dar chances de lutar... Eu poderia ter corrido, escondido meus pés atrás da cortina, buscado ajuda de alguém, mas evitei, e hoje graças a isso sou forte.

-Apenas foi o medo que me dominou por algum tempo, e eu não conseguia correr. Fiquei parada e não evitei nada, tomei uma picada de cobra e me tornei imune ao veneno, literalmente. Eu sorri, deixando que as últimas lágrimas caíssem. Ninguém precisava mais saber daquele assunto, ninguém deveria saber de minhas feridas, e elas não precisam ser abertas. Tudo muda, e hoje o "veneno" não me afeta mais.

-Então tudo bem. -Ele beijou a minha face e entrelaçou sua mão na minha. -Dorme, amanhã será outro dia. E lembre - se que estamos juntos nessa.

Realmente estávamos, e o passado ficou para trás, agora é futuro, e nada me impede de ser feliz.

Priscila Czysz
Enviado por Priscila Czysz em 10/01/2012
Reeditado em 21/01/2013
Código do texto: T3431991
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