O CUMPADRE COM SEUS CHIFRES BOIADEIROS

Isso deve ter acontecido nos tempos dos coronéis, quem vai lá saber não é mesmo? Naquele tempo não tinham pontes, chovia com força enchendo os ribeirões apartando muitos casais e também juntando muitos compadres. Dizem que a parte de cima do vilarejo era toda do coronel Bastião, homem rico e influente na política do lugar. Sua riqueza era tanta que tinha uma boiada com cada cor dos bovinos existentes. A mais famosa era a boiada roxa. Doze bois do mesmo tamanho, mesma cor e todos com os chifres também grandes e iguais. Quem tocava essa boiada era o simpático “Chico Carrero”, caboclo trabalhador que era famoso pela beleza de sua mulher, a famosa cabocla Tereza que conservava sua beleza porque não embuchava todo ano como era o costume da época.Tudo arrumação do coronel. No dia do casamento do Chico, como padrinho, chegou ao ouvido do noivo perguntando o que queria de presente e depois balbuciou: “Cê num vai tê corage de ficá imbuchando essa potranca todo ano, né Chico?” E seguindo os mandamentos do coronel o Chico não teve filhos. Todo o povo da região ficava abismado de ver o Chico com aquele “mulherão” e não ter filhos. Quando questionado respondia que estava esperando melhorar de vida e sua mulher tinha um grande controle da lua, daí nos dias que ela estava no ponto eles não se deitavam. Começaram-se os fuxicos porque a cabocla Tereza virou a quitandeira oficial no casarão do Coronel que não lhe poupava elogios.

- Êta história que num caba nunca cumpade!

- Mais tenho qui contá tudo pro povo intendê sô!

- Ranca a saia dessa potranca logo sô!

- Carma cumpade, a cumade tá lhe fartano?

- Caba logo quisso.

- Mais antão, o Chico cumeçô achá istranho porque só aparecê uma ameaça de chuva, o coroner mandava ele pegá a boiada e levá arguma coisa pra dispois do corgo Verde que inchia cum pouca coisa. Já tava cansado de durmi na banda de lá, no Ritiro veio, propriedade tamém do coroner que conservava por lá um tamém cumpade com sua famía de dez fio donde as más língua falava que metade era do coroner.

- Eta cabra do trem rocho.

- Diz que tanto de veiz esse cabra chorô nos ombro do Chico falano que sabia que metade dos fio num era dele mais num tinha jeito de fazê nada proque pricisava do coroner que lhe dava terra pra plantá e sobrevivê.

- Sacanage hein cumpade?

- Nada, o Chico tamém era frouxo.

- Cumé que cê sabe?

- Diz que passô uns tempo sem chuva e a cabocla Tereza cumeçô a crescê as barriga e o Chico cumeçô a discunfiá. No dia que o branco cabritinho nasceu, ele feiz umas conta e discubriu que o muleque foi feito nasques dia de chuvarada que fico quais méis da banda de lá do rio...

- Antão...

- Antão, ficou acabrunhado, cumeçô bebê cachaça e no dia que a muié veio lhe falá respondeu que importava não, era pobre memo...

- Coitado...

- Passo a quarentena, a cabocla Tereza cumeçô a impiná a bunda de novo, o coroner rudiano...

- Mais cê inrola em sô!

- Mais antão. Diz que a cabocla ficô cum remorso e foi priguntá pro Chico se pudia se deitá com o coroner de novo proque o home tava inté ofereceno presente. Era só pidi.

- ...

- Diz que quando o Chico vorto das inchente do corgo Verde iscutô sua muié falá que a boiada roxa era dele.

- Os doze boi roxo?

- Os doze boi roxo cós chifre e tudo....

- ...

Às vezes quando consigo inventar uma história dessas, boa ou ruim, mas sempre tirada da frase de um caboclo, me sinto um inútil perante a vida. O poder atropela os sentimentos como se a pobreza fosse o seu sustento. O CUMPADE E SEUS CHIFRES BOIADEIROS

Isso deve ter acontecido nos tempos dos coronéis, quem vai lá saber não é mesmo? Naquele tempo não tinham pontes, chovia com força enchendo os ribeirões apartando muitos casais e também juntando muitos compadres. Dizem que a parte de cima do vilarejo era toda do coronel Bastião, homem rico e influente na política do lugar. Sua riqueza era tanta que tinha uma boiada com cada cor dos bovinos existentes. A mais famosa era a boiada roxa. Doze bois do mesmo tamanho, mesma cor e todos com os chifres também grandes e iguais. Quem tocava essa boiada era o simpático “Chico Carrero”, caboclo trabalhador que era famoso pela beleza de sua mulher, a famosa cabocla Tereza que conservava sua beleza porque não embuchava todo ano como era o costume da época.Tudo arrumação do coronel. No dia do casamento do Chico, como padrinho, chegou ao ouvido do noivo perguntando o que queria de presente e depois balbuciou: “Ce num vai tê corage de ficá imbuchando essa potranca todo ano, né Chico?” E seguindo os mandamentos do coronel o Chico não teve filhos. Todo o povo da região ficava abismado de ver o Chico com aquele “mulherão” e não ter filhos. Quando questionado respondia que estava esperando melhorar de vida e sua mulher tinha um grande controle da lua, daí nos dias que ela estava no ponto eles não se deitavam. Começaram-se os fuxicos porque a cabocla Tereza virou a quitandeira oficial no casarão do Coronel que não lhe poupava elogios.

- Êta história que num caba nunca cumpade!

- Mais tenho qui contá tudo pro povo intendê sô!

- Ranca a saia dessa potranca logo sô!

- Carma cumpade, a cumade ta lhe fartano?

- Caba logo quisso.

- Mais antão, o Chico cumeçô achá istranho porque só aparecê uma ameaça de chuva, o coroner mandava ele pegá a boiada e levá arguma coisa pra dispois do corgo Verde que inchia cum pouca coisa. Já tava cansado de durmi na banda de lá, no Ritiro veio, propriedade tamém do coroner que conservava por lá um tamém cumpade com sua famía de dez fio donde as más língua falava que metade era do coroner.

- Eta cabra do trem rocho.

- Diz que tanto de veiz esse cabra choro nos ombro do Chico falano que sabia que metade dos fio num era dele mais num tinha jeito de fazê nada proque pricisava do coroner que lhe dava terra pra plantá e sobrevivê.

- Sacanage hein cumpade?

- Nada, o Chico tamém era frouxo.

- Cume que ce sabe?

- Diz que passo uns tempo sem chuva e a cabocla Tereza cumeçõ a crescê as barriga e o Chico cumeçô a discunfiá. No dia que o branco cabritinho nasceu, ele feiz umas conta e discubriu que o muleque foi feito nasques dia de chuvarada que fico quais méis da banda de lá do rio...

- Antão...

- Antão, ficou acabrunhado, cumeçô bebê cachaça e no dia que a muié veio lhe falá respondeu que importava não, era pobre memo...

- Coitado...

- Passo a quarentena, a cabocla Tereza cumeçô a impiná a bunda de novo, o coroner rudiano...

- Mais ce inrola em sô!

- Mais antão. Diz que a cabocla fico cum remorso e foi priguntá pro Chico se pudia se deitá com o coroner de novo proque o home tava inté ofereceno presente. Era só pidi.

- ...

- Diz que quando o Chico vorto das inchente do corgo Verde iscuto sua muié falá que a boiada roxa era dele.

- Os doze boi roxo?

- Os doze boi roxo cós chifre e tudo....

- ...

Às vezes quando consigo inventar uma história dessas, boa ou ruim, mas sempre tirada da frase de um caboclo, me sinto um inútil perante a vida. O poder atropela os sentimentos como se a pobreza fosse o seu sustento.

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 15/01/2012
Código do texto: T3442551
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