O tear das Serras Gerais

Nasci e vivi pelas terras mineiras nas primeiras décadas do século XX. Jovem ainda me encantou a operação do tear, com aqueles movimentos que pareciam mágicos com seu resultado final. Todos conheciam pela alcunha de “Tonho do Tear mágico”, mas sempre estava insatisfeito com o resultado, embora notasse o encanto nos olhos admirados. Com movimentos rápidos e sincronizados, lembrava àquelas aranhas caranguejeiras das bananeiras de todos os quintais.

Quando arguido sobre o segredo da perfeição, com sorriso nos lábios dizia:

_ O segredo na arte do tear está no amor ao tocar os fios e assim eles retribuíam dando vida ao tecido, o segredo é a suavidade dos toques das mãos num processo de caricias. Assim é na vida da gente o amor dever vir na frente. Mas sempre dizia que o mais lindo ainda estava por tecer, que fazia parte de um sonho e por ele morreria nesta maquina.

Certo dia na teimosia do sonho acionou a maquina como se fosse seu ultimo encontro, alta noite ainda se ouvia o barulho deste. Mas, pela manhã a percebeu-se silencio profundo. Alguém então começou a chamar e gritar, mas sem resposta, foi aos fundos da casa, onde um gato dormia na janela, as galinhas em desordem ciscavam nervosas pela espera do milho. A porta que dava para a cozinha estava fechada.

Era a vizinha Joana, tão preocupada que arrombou a porta e deparou com a cena, que ela jura ter sido a mais bonita vista pelos seus olhos, o tecelão enrolado no mais lindo tecido, que mais parecia tela de um pintor. Pelo chão uma quantidade enorme de restos de fios, que lembrava os verdes campos da região. Joana movida pela emoção num abraço apertado, logo quis saber se este era o sonho realizado. No que Tonho explicou sobre sua jornada noite adentro no tear pela busca do tecido perfeito.

Refeito do acordar assustado, visivelmente cansado confessa que na madrugada, quando já sem animo, sentiu um toque de uma mão suave sobre as suas e um clarão no quarto e naquele instante o tear parecia vivo com movimentos contínuos, rápidos e suaves reproduzindo em tecido tudo que idealizara. Naquela manha na região uma romaria, para conhecer o tecido do sonho de Tonho, que feliz e sem muita admiração dizia:

-Foi obra dos Céus.

Toninho.

29/01/2012.

Baseado no conto: A Moça Tecelã de Marina Colasanti.

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 03/02/2012
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