O PERDÃO
 
     Era o melhor marido do mundo para Florisbela. Trabalhador, atencioso, incentiva-a, apoiava-a nas mudanças que pensava em fazer – tanto no corpo quanto em casa. Tinham as brigas ― que todo casal tem no decorrer da vida de casados ―, nada de anormal. Um dia ele chega a sua casa, cabisbaixo. O que foi? Precisamos conversar. Claro, quando quiser. Antes mesmo de Vidigal abrir a boca o telefone toca. Ela atende. Quem fala? Quer falar com quem? Olha estou ligando para dizer que sou amante de seu marido. O telefone caiu-lhe das mãos. Cínico! O quê foi? Mas ele sabia. Era isso que ia lhe falar. Suma daqui! Sentiu-se super mal, ferida. Resolveu sair de casa – dois dias depois – para arejar as ideias. Arrumou duas malas – para ela e a filha.  Esperaria a filha voltar do colégio e o traidor também do serviço.

      Ele chegou com um olhar de cachorro desamparado. Vamos conversar? Não tenho nada para conversar com o senhor. Entrou no banheiro, tomou seu banho – quase frio –, escovou os dentes. Saiu de lá já arrumada. Olhando no relógio, viu que a filha estava com quarenta minutos de atraso. Tentou seu celular. Nada – só caixa postal. Continuou. Bateu-lhe um desespero. Quando menos esperava, a polícia entra em contato para reconhecimento do corpo.
      Vidigal na hora teve um colapso nervoso e desmaiou. A amante apenas disse ― em depoimento ― que não aceitava ser tratada como amante e sim como namorada. Nada, nem ninguém separá-los- ia.

      Florisbela olhou para mulher e sentiu dó ― o pior sentimento que se pode ter de alguém. Retirou-se da delegacia. Foi ao hospital onde seu marido estava. Entrou no quarto. Ao ver-lha desabou-se em lágrima e pedidos de desculpas. Chiiii. Calma! Abraçou-o e sussurrou ao seu ouvido. Eu o perdôo, pois basta o peso que carregará pelo resto de sua vida por ter assinado sua filha. Beijou-lhe o rosto e foi-se. Enquanto Vidigal gritava como um condenado do Inferno de Dante.

04/03/2011
Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 05/02/2012
Código do texto: T3482180
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