O Prisioneiro

Do gradeado de onde eu estava, podia ver todo o movimento da praça em frente. Era o único divertimento naquela sela escura e mal cheirosa. A vida para a cidade continuava normalmente e seu Agenor que de lá era dono; rico fazendeiro intitulado coronel, dono de quase todas as terras da cidade, com seu burrico parava em frente a mercearia do velho Tuca, negro alforriado, descendente direto de Zumbi dos Palmares, com sua velha toalha encardida no ombro e cuspindo no chão o resto de fumo que mascava. O negro atina a presença do coronel e, a seu pedido prepara uma branquinha pra acalmar os nervos. - Tome uma também homem, sabe muito bem que não gosto de beber sozinho! - Diz o coronel e o negro que há tempos não bebia o acompanha com uma cara de da dó. - Só uma não faz mal, né coronel?! - o velho com o sorriso amarelado.

Estava preso já há alguns dias por motivos irrelevantes; vivia na rua, pelos botecos, bebendo e arrumando confusão. A ultima foi com o cachorro do caixeiro viajante; cismou que queria fazer um churrasco do cachorro, logo o seu dono o seu Vilamar deu-lhe uma corsa e entregou-lhe a polícia. Era letrado, vivia com um jornal ou revista; e naquela região eram poucas as pessoas que podiam debater algum assunto com ele. O fato é que aquela altura dos acontecimentos Parece que ninguém percebeu seu sumiço, mas até que estava gostando. De onde estava tinha uma visão privilegiada da cidade, podia ver tudo e as vezes até ouvir comentários e conversas que jamais acreditaria.

Numa noite dessas vi a mulher do coronel, a dona Leonora sair da igreja tarde da noite, parecia com pressa. Na igreja já não havia mais ninguém e aquela hora não se sai de casa pra rezar, mas o mais curioso é que depois de algum tempo sai um homem da igreja, com uma capa toda preta cobrindo-lhe as fuças, quase não deu pra reconhecer Pedro Chimbinha, macho frouxo do jeito que era não podia ser outra coisa; coincidência. Ele não seria capaz de botar uma par de chifres no coronel; nem que a sua mulher lhe amarrasse e fizesse o serviço sozinha. Ou será que tinha? Sei não, mas de qual quer forma vou ficar de olho.

Daí por diante começou a prestar a tenção a tudo que se passava na cidade, e teve a idéia de escrever os fatos, pondo tudo que via em um caderno velho que lhe fora dado pela dona Rosalina; beata que visitava a prisão uma vez por semana. Depois de mais de uma semana preso é libertado. Quando sai da cadeia é motivo de chalaça para os moradores, todos pareciam não gostar dele, pensava: "Vocês me pagam, vão ver só!!!". Tinha uma cabana afastada da cidade, que era de um antigo índio curador, que já havia morrido a muito tempo e foi lá que pretendeu ficar e terminar seu livro ou o diário público como ele mesmo gostava de chamar. Depois de terminado decide mandar para cada um dos moradores uma carta informando um fato que lhes dissessem respeito. Ele esperou um, dois, três dias e nada, ninguém se pronunciou à respeito e na cidade tudo corria normalmente. O que pode ter acontecido? Esse marasmo é muito estranho e decide voltar a cidade para assuntar.

- Bom dia! - Eu disse entrando na mercearia do velho Tuca. E todos respondem prontamente. A mercearia era o centro comercial e o local onde se discutia todos os assuntos da cidade. Ali se encontravam o padre, o delegado, o prefeito, o medico da cidade e logo em seguida Seu Agenor com o seu burrico e seu par de cornos presente da esposa. Começa o prefeito:

- O dia hoje até que tá bonito, não é mesmo? Agora, estou achando o senhor um pouco descoroçoado seu padre, preocupado, aconteceu alguma coisa? Parece até que viu alma? - O padre vacila um pouco mas responde em seguida: - Impressão sua meu filho, é a idade; quando se tem a idade avançada tudo fica um pouco mais lento...

Passados alguns dias

- Eu vou te pegar seu safado! Você pensa que é homem pra mexer com minha mulher? Vai aprender a respeitar mulher de homem! - Seu Agenor com Chimbinha no meio da praça.

- Quem da mais? Quem da mais? - Dou vinte no coroné! - Trinta, dou trinta.

Geison Correia
Enviado por Geison Correia em 19/01/2007
Reeditado em 23/01/2007
Código do texto: T352702