O Presente

Um rapaz parado na rua chama um amigo que vai passando e diz:

– Olhe só os meus sapatos!

– O que tem eles?

– São bonitos, não são?

– São diferentes, interessantes, charmosos talvez, mas... Bonitos eu não sei dizer.

– Mas isso é uma questão de gosto, não acha?

– Ah, sim. Sem dúvida!

– Você usaria um desses?

– Sinceramente, não!

– Mas gosta?

– Como disse: são peculiares!

– Não, você não disse que eram peculiares. Disse que eram diferentes, interessantes e talvez charmosos.

– Certo, tem razão! São diferentes, interessantes, charmosos e peculiares.

– Você gosta deles ou não?

– Um pouco!

– Hmmm... Então você poderia usá-los!

– Já disse que não!

– Mas você deve concordar que se você gosta um pouco, poderia usá-los... Quem sabe com a combinação certa, ahn?

– É, quem sabe!?

– Uma calça, por exemplo!

– Sim!

– Você acha que a calça que estou vestindo combina com eles?

– Sim, combina sim.

– Você usaria estes sapatos com esta calça assim como eu estou usando?

– Eu não sou como você!

– Mas usaria?

– Talvez!

– Talvez por quê? O que falta?

– Não sei dizer com certeza...

– Uma camisa que complete o visual, quem sabe?

– Sim, acho que é isso!

– Que tal a que estou usando?

– De fato ela combina.

– Então eu lhe pergunto: você usaria estes sapatos com esta calça e esta camisa?

– É... Usaria!

– Então é tudo seu!

– O que? Como assim?

– Já que gostou tanto do meu visual, lhe dou de presente por completo!

– Não. Não precisa!

– Claro que precisa! Você adorou! É seu!

– Só disse que estão combinando.

– Pois então! Não faria sentido lhe dar apenas uma peça. Ficaria incompleto!

– Mas eu não quero!

– O que é isso? Não faça charme! Você elogiou tanto o meu visual.

– Apenas dei minha opinião.

– Atribuiu tantos predicados aos meus sapatos! E eles ficam muito bem com a calça e a camisa que estou vestindo. Você mesmo disse!

– Sim, mas não há necessidade. São seus, pode ficar! Me contento em admirá-los em você.

– Faço questão! (Vai desabotoando a camisa)

– Por favor, não.

– Não se recusa um presente. É falta de educação!

– Mas você vai ficar sem!

– Por você, não me importo.

– Então dê-me apenas uma peça. Pode ser a camisa.

– Não, se você quer só uma peça, eu lhe dou os sapatos.

– Está claro que você gosta muito dos sapatos, dê-me a camisa.

– Você adorou os sapatos, merece tê-los.

– Que seja a calça então. Que tal?

– Não, já disse que quero lhe dar os sapatos.

– já vi que não vai adiantar discutir ou tentar te convencer.

– Quer me ver feliz, amigo? Aceite os sapatos de presente.

– Ok. Eu aceito os sapatos. Muito obrigado!

– Não tem de que!

– Você é um bom amigo!

– Você é merecedor!

– Obrigado mais uma vez!

– Eu é que lhe agradeço.

– Mas por que fez tanta questão de me presentear?

– Você é meu amigo, um bom amigo que merece um presente. E adorou o visual!

– Mas insistiu tanto em me dar os sapatos.

– Porque você os adorou.

– Mas você também gosta, senão não teria comprado.

– Comprado? Quem disse que comprei? Ganhei de presente da minha avó.

– Mais um motivo para gostar deles.

– Talvez, mas não é o caso.

– O que você acha desses sapatos?

– Horríveis! Além disso, machucam meus tornozelos, por isso estava parado na rua quando você passou. Bem na hora! Já lhe agradeci por me livrar deles?

Hellen Bravo
Enviado por Hellen Bravo em 25/03/2012
Reeditado em 15/10/2012
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