Ainda Na Primeira Infância

Ainda dessa época, um outro fato marcaria para sempre a minha vida. Nas proximidades havia um campinho, onde aos domingos de manhã os homens jogavam bola e durante a semana toda a molecada se divertia pra valer. Era lindo o campinho. Ficava dois lances acima do nível da nossa rua e era todinho ladeado por bambus, exceto num dos lados que, dava para o cume da ladeira, e que tinha um portão grande parecido com essas porteiras de sitio. Não sei se alí houvera sido um sitio de alguem que, sabe-se lá porque motivos tristes, o teria abandonado para alegria e felicidade da criançada do bairro. Do lance do meio a meninada descia para o nível da rua sentados em folhas de coqueiro, como se fosse um tobogã. Faziam o vão como podiam e os meninos faziam xixi no vão para que a folha seca de coqueiro deslizasse até o chão com mais facilidade e rapidez. Era um capítulo à parte:

- Vira pra lá que eu vou mijar aí, vira logo senão mijo assim mesmo. Assim diziam o meninos.

Certo dia, eu estava no nível da rua e meu primo, filho do tio Z estava no vão de cima. Eu queria descer pela folha do coqueiro mas estava com dificuldade para subir. Tinha que subir pela ladeira, mas queria ganhar tempo e subir pelo morro mesmo. Meu primo estava brincando com algo parecido com um arco e flecha. Não me lembro o que fazia com aquilo. Se caçava pasarinho ou o que o era. Me postei na mesma direção dele pedindo para que me ajudasse a subir. Ele se recusava e disse:

- Vou descer, sai da frente senão atiro a flecha. Depois e um bate e volta, como me recusasse a sair, ele não teve dúvidas. Atirou a flecha que se alojou no meu braço esquerdo. Saí dali chorando, com flecha fincada no braço atrás da "Doiê" para curar os meus males. Apesar dos cuidados, isso me rendeu uma cicatriz pequena que carrego no braço esquerdo até hoje.

De boas lembranças, ainda guardo recordações de quando íamos par a casa da tia C do outro lado da Fernão Dias. O caminho era cheio de verde, cheiro de mato, muitos pés de morangos silvestres. Partíamos colhendo e comendo os morangos pelo caminho, sem se preocupar com nada.

Vivendo minha infância naquele meio ambiente rico, no aconchego do abraço da vovó, sequer imaginava que futuro árduo estaria a mim reservado.

Preta Pobre e Culta
Enviado por Preta Pobre e Culta em 09/05/2012
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